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Natural de Salvador, Bahia (16/03/1968). Formado pela Escola de Administração da UFBA (2004). Cursando Direito na UNIRB. Solteiro.

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domingo, 4 de dezembro de 2011

Chapada Diamantina - Bahia: Condições, pespectivas e propostas


1.      Introdução
A Chapada Diamantina é uma das regiões mais belas de todo o Estado da Bahia e Brasil, destacando-se ainda dentre outras regiões do planeta, possuindo aspectos peculiares quanto à sua flora, fauna, formação geológica, ocupação e atividades econômicas ali desenvolvidas.
É uma região maior que a Bélgica e requer um olhar atento às suas peculiaridades, potencialidades e necessidades de preservação. Nenhuma visão simplista será capaz de atender às suas necessidades e às de sua população.
Acreditamos que nem a posição preservacionista radical nem a mera exploração econômica irresponsável dos seus recursos serão capazes de trazer o desenvolvimento àquela região. A solução é o desenvolvimento sustentável e a busca de projetos factíveis, adaptados à realidade da Chapada Diamantina. O mesmo pode ser dito em relação á Floresta Amazônica, ao Pantanal Mato-Grossense, ao Cerrado, à Caatinga e ao que restou da Mata Atlântica.

2. Localização, Características e Aspectos Geográficos
A Chapada Diamantina é uma região de serras, situada no centro do Estado da Bahia, onde nascem quase todos os rios das bacias do Paraguaçu, do Jacuípe e do Rio de Contas.
A vasta Mata Atlântica, campos floridos e planícies de um verde sem fim dividem a paisagem com toques de caatinga e cerrado. Imensos paredões, desfiladeiros, canyons, grutas, cavernas, rios e cachoeiras completam o cenário de rara beleza da Chapada Diamantina. Inicialmente habitada pelos índios Maracás, a ocupação de fato da região remonta aos anos áureos da exploração de jazidas e minérios, a partir de 1710, quando foi encontrado ouro próximo ao Rio de Contas Pequeno, marcando o início da chegada dos bandeirantes e exploradores. Em 1844, a colonização é impulsionada pela descoberta de diamantes valiosos nos arredores do Rio Mucugê, e os comerciantes, colonos, jesuítas e estrangeiros se espalham pelas vilas controladas e reguladas pela força da riqueza. A atividade agropecuária tomba diante da opulência do garimpo.
Veremos, a seguir, algumas das principais localidades da região, e, mais adiante, veremos mais sobre outros pontos interessantes ali encontrados:
Lençóis
A cidade de Lençóis é a antiga capital do diamante no Brasil. A procura pela pedra preciosa deixou marcas na arquitetura dos casarões e nas trilhas abertas por garimpeiros. Lençóis é o coração da Chapada Diamantina, com infra-estrutura completa para receber o visitante que deseja conhecer as diversas manifestações culturais. No mês de junho comemora-se o São joão, onde a praça da cidade se transforma no palco de comemorações. Entre julho e agosto acontece o Festival de Lençóis, com grandes nomes da música brasileira.
Itaetê
Nessa localidade se encontra o "Poço Encantado", uma piscina subterrânea, onde os raios de sol criam um efeito azulado na caverna. Por ser cristalina a água chega a uma visibilidade de até 70 m de profundidade.
Jacobina
Além de manifestações religiosas e culturais, a cidade oferece ainda dezenas de trilhas e cachoeiras, ótimas para a prática de rapel, cascading, escalada e vôo livre. Jacobina é conhecida como a cidade do ouro e é rodeada por serras, morros e vales.
Andaraí e Igatu
Andaraí fica situada às margens do Rio Baiano e é uma cidade de clima serrano e mais frio durante os meses do meio do ano. Fica próximo a Igatu, uma vila muito parecida com cenários de um filme medieval, que proporciona aos visitantes um passeio por ruínas dos tempos do garimpo, e casas de pedras habitadas por descendentes dos desbravadores da região. Neste local pode-se conhecer também a Galeria Arte e Memória, que conta com obras de artistas baianos.
Mucugê
A cidade é outro "centro" da Chapada Diamantina e competia com Lençóis durante o ciclo do diamante. A poucos quilômetros do Centro encontra-se o Parque Municipal Sempre Viva, um local com cachoeiras e rios, além de um museu com sítios arqueológicos de garimpo, ruínas, casas de pedra e uma diversidade de orquídeas, bromélias, begônias, sempre-vivas, plantas carnívoras, entre outras. A cidade guarda um rico patrimônio histórico quase intacto, como o único cemitério bizantino das Américas. A festa de São João, padroeiro da cidade de Mucugê, preserva o estilo tradicional do leste e é uma boa chance de conhecer a hospitalidade de seus moradores e a cultura local.
Rio de Contas
Rio de Contas é uma das mais antigas cidades da Chapada. Há 300 anos a Coroa Portuguesa construiu a Estrada Real, um trecho de 6 km a rota do garimpo, que hoje se mostra como uma ótima opção de tekking, reunindo história e belezas naturais. Entre os roteiros estão o Pico das Almas, as diversas cachoeiras , riachos e morros, além das comunidades quilombolas de Bananal e Barra.
Palmeiras
Neste município fica a Cachoeira da Fumaça, uma queda d'agua de 420m de altura, e o Morro do pai Inácio, com suas lendas e uma vista panorâmica da região. A vila do Caeté-Açu, mais conhecida como Capão é uma das localidades mais procuradas do município. Uma trilha com rios, serras e plantas, liga a cerca de três horas o Vale do capão e o Vale do Paty.
Iraquara

Como em diversos outros municípios da Chapada, o visitante pode praticar o Espeleoturismo: visitação em cavernas para observar estalactites e estalagmites. Neste local estão localizados a Gruta da Pratinha e a Gruta da Torrinha , considerada uma das mais completas, observando-se a riqueza e diversidade de seus espeleotemas(encontro das estalactites e estalagmites).

Reduto de belezas naturais, a Chapada abarca uma diversidade de fauna e flora. São mais de 50 tipos de orquídeas, bromélias e trepadeiras e espécies animais raras, como o tamanduá bandeira, tatu canastra, porcos espinhos, gatos selvagens, capivaras e inúmeros tipos de pássaros e cobras. O Parque Nacional da Chapada Diamantina, criado na década de 80, atua como órgão protetor de toda essa exuberância. Enfim, a Chapada Diamantina reúne variados atrativos naturais e culturais no coração do estado da Bahia. Roteiro certo para quem busca paz e tranqüilidade ou para quem está atrás de história e aventura. Morros, grutas, cavernas e cachoeiras são fortes atrativos para turistas e curiosos de diferentes origens.


A região, que se caracteriza pela existência de grandes altitudes, abriga os três pontos mais altos de todo o Estado: o Pico das Almas, o do Itobira e o dos Barbados, com mais de dois mil metros, sendo o mais alto de todo o Nordeste brasileiro. Ao mesmo tempo, é também, cenário de grupos e cavernas, distribuídas principalmente nas mediações de Iraquara, que apresentam formações entre as mais raras do Brasil. Outras atrações são os mais de 50 tipos de orquídeas, bromélias e trepadeiras que, de novembro a abril, embelezam a paisagem da Chapada e tornam as trilhas ainda mais agradáveis.
Cravada no centro do Estado, a Chapada é considerada o coração do território baiano e, é através dos seus vales e quedas d'água, que nascem e caminham as três principais bacias hidrográficas genuinamente baianas: a do Rio Paraguaçu, do Rio Jacuípe e do Rio de Contas.
Características
As rochas da Chapada Diamantina fazem parte da unidade geológica conhecida como Supergrupo Espinhaço, que tomou este nome por ocorrer na serra do Espinhaço, no Estado de Minas Gerais. Apresenta-se em geral como um altiplano extenso, com altitude média entre 800 e 1.200m acima do nível do mar. As serras que compõem a Chapada Diamantina abrangem uma área aproximada de 38.000 km² e são as divisoras de águas entre a Bacia do rio São Francisco (rios S. Onofre, Paramirim) e os rios que deságuam diretamente no oceano Atlântico, como os rios de Contas e Paraguaçu. Nesta cadeia de serras são encontrados os picos mais altos da Bahia, sendo o pico do Barbado com 2.033m, o ponto culminante de todo o nordeste.
Surgimento
A Chapada Diamantina nem sempre foi uma imponente cadeia de serras. Há cerca de um bilhão e setecentos milhões de anos, iniciou-se a formação da Bacia Sedimentar do Espinhaço, a partir de uma série de extensas depressões que foram preenchidas com materiais expelidos de vulcões, areias sopradas pelo vento e cascalhos caídos de suas bordas. Sobre essas depressões depositaram-se sedimentos em uma região em forma de bacia, sob a influencia de rios, ventos e mares. Posteriormente, aconteceu um fenômeno chamado soerguimento, que elevou as camadas de sedimentos acima do nível do mar, pressionada pela força epirogenética, tendo aos pouco um sofrível erguimento ao longo de milhões de anos. As inúmeras camadas de arenitos, conglomerados, e calcários, hoje expostas na Chapada Diamantina, representam os depósitos sedimentares primitivos; a paisagem atual é o produto das atividades daqueles agentes ao longo do tempo geológico. Nas ruas e calçadas das cidades da Chapada, lajes de superfícies onduladas revelam a ação dos ventos e das águas que passavam sobre areais antigos.

3.      História / Ocupação da Região
Até o início do século XVIII não havia colonização na região. Em 1701, Portugal já sabia da ocorrência de ouro no norte da Chapada Diamantina (próximo à cidade de Jacobina). A fase áurea do ouro na Bahia durou quase dois séculos, até os primeiros anos do século XX, quando as jazidas começaram a se esgotar. Por volta de 1817 são descobertos diamantes na serra do Bastião, a oeste da Serra do Sincorá.
A mineração foi responsável pelo povoamento do local. Paulistas começam a explorar em Rio de Contas (já na área sul da Chapada), logo chegam garimpeiros de Minas Gerais. Aventureiros, foragidos, lavradores, boiadeiros, ricos comerciantes da capital e senhores de engenho do Recôncavo baiano e seus escravos chegam à região.
A importação de produtos europeus e exportação do ouro e diamantes eram controladas pelos ricos comerciantes do Recôncavo, portugueses e ou seus descendentes. Hoje você pode conferir em Lençóis o prédio do então Consulado francês, que também funcionava como um “QG” para negociar as riquezas da região com a Europa.
O “povo” era formado por pessoas do alto sertão baiano, do planalto central e do Vale do São Francisco. Brancos brasileiros e portugueses do vale lutam pela independência do Brasil, movimento conhecido com Guerra Mata-maroto. O conflito teve como cenário a cidade de Rio de Contas, sul da Chapada.
Isso se dá no período Regencial, com a abdicação de D. Pedro I (1831) até 1840, quando D. Pedro II é considerado maior de idade. Essa é uma época conturbada e de grande revolta social. Os brasileiros pobres continuam fora da vida política nacional e qualquer levante é violentamente reprimido.

No ano de 1861 em Lençóis há uma “eleição” para a indicação de um membro do conselho municipal para representante no Senado Estadual. Começa uma violenta disputa entre “Serranos” – liberais representados pelo coronel Felisberto Augusto de Sá; e “Baianos” - conservadores, representados pelo coronel Antonio Gomes Calmon.
Com a Proclamação da República e a Abolição dos Escravatura, os coronéis do litoral se deixam abater enquanto os do sertão intensificam suas lutas pelo poder regional.

A criação e ocupação das cidades e vilas da Chapada Diamantina é fruto direto da exploração do diamante. Antes da descoberta desta pedra preciosa a região era vagamente povoada e ainda comandada pelo índios Maracás, que respondiam com violência à chegada de estranhos. A agropecuária praticada nas grandes fazendas era a atividade econômica principal.
Em 1710, com a descoberta de ouro no sul da Chapada (próximo ao rio de Contas Pequeno) e a conseqüente chegada de bandeirantes e exploradores vindos de outros pólos mineradores, começou a colonização da região. 
Não se sabe ao certo quando o diamante foi encontrado pela primeiravez na Chapada Diamantina. Com as tentativas do governo português de controlar e até impedir a exploração de pedras preciosas no Brasil para evitar a queda de preços no mercado internacional e garantir o pagamento do quinto, certamente essa atividade certamente já existia antes das explorações regulamentadas.

Em 1844, com o anúncio da descoberta de diamantes muito valiosos próximo ao rio Mucugê, começou a corrida pela pedra na região. Garimpeiros vindos do Arraial do Tijuco (hoje Diamantina) e locais já em crise devido ao fim do ciclo do ouro puxaram a população itinerante que explorava o Brasil atrás de riquezas. Comerciantes, colonos (responsáveis pelas plantaçòes), jesuítas, contrabandistas e estrangeiros se espalhavam em vilas marcadas pela falta de leis e autoridades oficiais.

É importante destacar também a exploração do carbonato na Chapada Diamantina. Inicialmente desprezado pelos garimpeiros, a partir de 1871 foi disputado a altos preços pelos países europeus, interessados em elementos resistentes para as máquinas e construções que alavancavam a Revolução Industrial.
O esgotamento parcial das jazidas de diamante foi agravada pela descoberta de novas fontes no Sul da África, iniciando um longo período de recessão e pobreza. As atividades agropecuárias voltaram a ser a principal fonte de renda e emprego da região, ao mesmo tempo que favoreciam a concentração de poder e dinheiro pelos grandes coronéis.
Região marcada por grandes diferenças sociais e concentrações de renda, a Chapada Diamantina foi, da segunda metade do século XIX até década de 1930, um barril de pólvora comandado por poucos e muito poderosos coronéis. As tradicionais famílias proprietárias de terra davam abrigo e emprego para os colonos e exploradores a procura de riquezas, e em troca conquistavam a gratidão e fidelidade dessas pessoas. Formaram-se assim verdadeiros exércitos de jagunços disposto a defender com a própria vida os interesses dos patrões.
As divergências entre coronéis levaram à criação de dois partidos políticos que, mais que uma posição ideológica, representavam uma escolha social. Os liberais e conservadores (ou pinguelas e mandiocas, apelidos dados a um pelo outro) dividiam-se em tudo, do uso obrigatório da cor-símbolo do partido à formação de duas orquestras filarmônicas que disputam as atenções nas festas populares.
As mudanças da transição do Império para a República, ainda que chegando com certo atraso à região, acirraram ainda mais a tensão política dos grupos rivais. A tentativa de centralização do poder em um governo federal (e a consequente perda de influência na política local) e a abolição da escravatura foram mudanças que assustaram a política conservadora local.
Com a morte do coronel Felisberto Augusto de Sá em 1896, acirraram-se as disputas pelo poder na região. Os coronéis Felisberto Sá e Heliodoro de Paula Ribeiro travaram, através de seus jagunços, uma verdadeira guerra na região. O seqüestro do filho de Felisberto, Francisco Sá, agravou a disputa, que só terminou com a intervenção do governador baiano.
Um período de relativa paz marcou a passagem de comando dos coronéis a seus sucessores. Horácio de Matos, sobrinho de Clementino de Matos (outro coronel), é chamado para assumir as áreas do tio e propõe paz entre as famílias. Um curioso início de carreira para o homem que, após violentas batalhas contra a Coluna Prestes, seria definitivamente considerado o coronel mais temido e respeitado da Chapada.

4. Cultura, Arquitetura e Culinária 

Precedendo a história colonial brasileira, a passagem do homem pré-histórico na Bahia está registrada em sítios arqueológicos onde se destacam painéis de pinturas rupestres.
Existem hoje na Chapada Diamantina cerca de 65 sítios com pinturas rupestres cadastrados por estudiosos. Por meio destas representações pictóricas, é possível identificar desenhos da flora e fauna, além do cotidiano dos mais antigos habitantes da região.
Cada painel representa uma cultura, uma época, um momento da pré-história brasileira. Além de se constituírem em importantes fontes de pesquisa para os diversos campos das ciências humanas, esses sítios arqueológicos configuram-se como atrativos turísticos potenciais por se localizarem em áreas de acesso relativamente fácil e de grande beleza cênica. A ocupação das terras da Chapada Diamantina se deu sob influência do cultivo do solo, da exploração agropecuária e da extração mineral, em épocas diferentes. Desse modo, vieram para a região pessoas de vários lugares trazendo consigo cultura, conhecimentos e estilos de vida próprios. O patrimônio deixado por essas populações é muito diversificado e conta a saga do garimpo em cada beco e nos casarões seculares das cidades edificadas nos séculos 18 e 19,  com desenho urbano espontâneo e irregular.
A imponência e a importância do casario colonial, que remontam à época do garimpo de diamantes e do ouro, tornaram os conjuntos arquitetônicos de Rio de Contas, Lençóis, Mucugê e Igatu, Patrimônios Nacionais, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Esses testemunhos do tempo correspondem, hoje, a atrativos turísticos de notável importância.
Em meio à população tradicional é comum identificar os contadores de histórias, moradores antigos da zona urbana e também da zona rural que repassam histórias de coronéis perversos, tesouros escondidos e escravos sacrificados que no final tornam-se fantasmas ou assombrações. Entre as mais fantásticas está a "Lenda do Pai Inácio", que inclusive foi transformada em roteiro para cinema.
Aliás, quem quiser conhecer a cultura popular da Chapada Diamantina precisa visitar as feiras livres, que acontecem em todas as cidades.
O dia amanhece com um burburinho característico de gente chegando de todos os cantos, trazendo de longe a produção de suas roças. As folhas e ervas medicinais têm seu lugar garantido. Entre as espécies vegetais nativas, importantes para a medicina, estão: pariparoba, quebra-pedra, espinheira-santa, macela-do-campo, abutua, alecrim-do-campo, assa-peixe, barbatimão, bolsa-de-pastor, cagaiteira, chapéu-de-couro, carqueja e caroba. Geralmente, o vendedor ou vendedora de ervas é um alquimista nativo que conhece a função de cada uma dessas plantas. Os derivados do couro - alforjes, baús, cintos e chapéus - atraem vaqueiros de toda a região. A feira é um festival de cores, odores e sabores. É dia de festa em cada uma das cidades da Chapada Diamantina.
Os apogeus econômicos ou políticos regionais propiciaram manifestações culturais pujantes (muitas vezes se sobrepondo e eliminando outras anteriores), sendo preservados os conjuntos que, por alguma razão, ficaram à margem do fluxo de novos ciclos de desenvolvimento, ao decair o anterior. Também se preservaram edifícios que, por sua própria natureza, mantiveram sua função original inalterada, como igrejas, fortificações e alguns edifícios públicos. De outros, ainda, restam ruínas, testemunhos históricos às vezes até dos fatos que causaram sua destruição.
A arquitetura de Lençóis é inteira estilo colonial, desde uma simples casa da periferia até o prédio da Prefeitura. Com portas e janelas gigantescas e seu pé direito (altura do piso ao teto) chegando a mais de 4 m. Por fora são coloridas dando um ar todo especial na cidade. A cidade de Lençóis foi tombada em 1973, pelo Patrimônio Nacional, hoje os moradores e admiradores da Chapada Diamantina querem o tombamento internacional pela UNESCO - como paisagem e patrimônio cultural da humanidade, por suas belezas naturais, riquezas culturais, importância histórica, arqueológica e arquitetônica.

CASARIO COLONIAL DE LENÇÓIS

Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional desde 1973, Lençóis preserva o casario colonial do final o século XIX. Além dos sobrados, que remetem ao período áureo do garimpo de diamantes, a cidade abriga ainda um museu (instalado em um palacete neoclássico onde funciona a Prefeitura) e belas igrejas, como a do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora do Rosário, ambas também do século XIX.


Uma curiosa construção do século XIX chama a atenção na entrada da cidade. Trata-se do Cemitério Bizantino, repleto de miniaturas de igrejas e de capelas em formas góticas e pontiagudas. As obras, todas muito branquinhas, ganham iluminação azulada ao anoitecer. 

                     Cultura Popular
 
Além das já consagradas belezas naturais encontradas no entorno de Lençóis, uma das maiores riquezas da cidade está na cultura de seu povo.
Essa cultura se expressa através das manifestações culturais. São grupos de reisados, de capoeira, de maculelê, de baianas, de samba de roda, entre muitos outros, que com suas cantigas, ladainhas, rodas, vestimentas e instrumentos enchem de colorido e alegria a cidade nos dias tradicionais de suas apresentações.

CULINÁRIA

A culinária é mais um dos prazeres que a Chapada oferece. A culinária da região também segue os traços históricos, por meio de uma junção das influências de escravos e garimpeiros que viveram por lá nos séculos XVII e XVIII, respectivamente. Um dos pratos mais tradicionais da região é a galinha ao molho pardo, acredite, feita com o sangue da própria ave; além da carne-de-sol, entre outros. Os acompanhamentos ficam por conta do arroz com pequi, ensopado de carne-seca com banana verde, também chamado de godó de banana, muito mamão e abóbora. Reputamos de grande importância a continuidade do festival Gastronômico da Chapada Diamantina.
Entre os dias 11 de dezembro e 1º de janeiro, aconteceu o III Festival Gastronômico da Chapada Diamantina, em quatro municípios da região: Andaraí, Lençóis, Mucugê e Vale do Capão.
A grande novidade do ano de 2009, em relação a este Festival de Gastronomia, foi a realização de palestras sobre gastronomia e vinhos, que tiveram a participação de especialistas nos temas, com entrada gratuita.
As três palestras programadas ocorreram entre os dias 11 e 13 de dezembro, no Restaurante Aromata da Lagoa, na Pousada Candombá e no Hotel Portal de Lençóis, estabelecimentos que participaram do festival. O público-alvo são donos de restaurantes, pousadas e hotéis da região, mas as palestras estarão abertas aos interessados nos assuntos abordados.
O festival é uma oportunidade para curtir as belezas naturais da Chapada Diamantina e saborear pratos típicos da região a preços promocionais. Em 2009, vinte e dois estabelecimentos participaram do evento. Para os moradores das comunidades, são oferecidos descontos especiais. Isso, segundo a organização do evento, é uma maneira de atrair os moradores dos locais a se integrarem ao evento e poder movimentar a economia dos Municípios.
Outra novidade, em 2009, foi a participação do Município de Andaraí. Foram dois estabelecimentos de Andaraí e do distrito de Igatu.
Cada um dos 22 restaurantes inscritos destacaram no seu cardápio um “prato da casa”, para representá-lo no Guia de Bolso do Festival e ganhou uma divulgação especial com foto no local do estabelecimento. Os garçons também entraram no clima, vestindo um avental personalizado com a marca do festival. Além das deliciosas receitas típicas da região, vendidas a preço promocional, o público ainda pôde contar com passeios ecológicos e uma programação cultural em cada destino escolhido.
O objetivo do evento é valorizar a cultura e a gastronomia locais, além de dinamizar o turismo através da culinária. O Festival Gastronômico da Chapada é uma realização da Mil Produções com patrocínio do Sebrae, Senac e Bahiatursa, em parceria com empresários da Chapada Diamantina. O evento também visa a capacitação dos profissionais da região.  

COMUNIDADES QUILOMBOLAS NA CHAPADA DIAMANTINA


Além dos contrafortes ao Sul da Chapada Diamantina, em meio a uma terra desbotada pelo  açoite os anos, um povo luta para sobreviver ao rolo compressor da modernidade.
 A  centenária comunidade remanescente de quilombo de Barra e Bananal – a cerca de 15 quilômetros da histórica Rio de Contas – tenta se adaptar ao mundo contemporâneo e ao mesmo tempo resgatar parte de seu passado perdido.
Quem chega a esses vilarejos pensando em encontrar casas de palha cobertas com telhados de folha de palmeira – no melhor estilo tribal angolano – se decepciona logo de cara. Antenas parabólicas brotam do alto de casinhas coloridas, esparsas, difíceis, pipocando aqui e ali, mais como testemunhas do que como réus. Tanto em Barra quanto em Bananal, as igrejas são o centro da vida social como em qualquer outra cidade do interior. Construções não são muitas. Dá para contar nos dedos das mãos (calejadas com o trabalho nas roças) e dos pés (cansados de caminhar nas estradas poeirentas). As cruzes no único cemitério competem com as ervas daninhas e o mato para ver quem fica com a atenção do visitante. O rio Brumado, de águas cristalinas, corta os vilarejos indo morrer na barragem mais à frente.

No século XVII, um navio negreiro vindo da África  naufragou na costa baiana próximo de onde é hoje a cidade de Itacaré. Os sobreviventes nadaram até a praia e, tendo o curso do Rio das Contas como guia, adentraram sertão acima em busca de um lugar seguro para se estabelecerem. Escolheram as cabeceiras do Rio Brumado e por lá ficaram, cultivando suas roças, mantendo sua culturas, suas tradições. Porém, a descoberta de ouro na Chapada Diamantina trouxe aventureiros ávidos pelo metal dourado.

Bandeirantes chefiados por Raposo Tavares escravizaram os quilombolas, colocando-os para remexer cascalho. Não foram erguidas senzalas e os negros continuaram vivendo em suas terras enquanto foi erguida a vila de Mato Grosso para os brancos. Com a exploração, o ouro foi escasseando e as atenções se voltaram para o norte da Chapada, região de Lençóis, onde haviam sido descobertas jazidas de diamantes. Com isso a liberdade foi reconquistada, mas o preconceito e a discriminação continuou.

O cotidiano não varia muito. Barra do Brumado está a aproximadamente dois quilômetros de Bananal e é o centro da comunidade. Em volta de ambos os vilarejos, as roças se espalham feito um tapete esburacado pelos morros ao redor. De um lado a igreja, do outro o posto de saúde e a escola. Depois, só em Rio de Contas. Um ônibus escolar branco faz todo o dia o trajeto entre a cidade e os vilarejos levantando poeira em uma estrada carroçável, mas nem tanto.

A energia elétrica chegou em 1996 e a água encanada em 1988, depois de muita briga por parte da comunidade. Os políticos locais do passado, seguindo a inércia racista, fizeram de tudo para que ambas não fossem instaladas nos arraiais. A luz poderia ter vindo muito tempo antes. Porém, foi desviada para que os "negros" não fossem beneficiados.

O posto de saúde existe na comunidade desde 1986 e possui agentes de saúde. Um trabalho conjunto com a Pastoral da Criança acabou com a desnutrição no lugar e diminuiu as complicações pós-parto. Antes, morria-se muito do "mal do sétimo dia" (infecção que começa no umbigo do recém-nascido). Passava-se óleo e outras misturas para acelerar a queda do umbigo. Hoje, as doenças cardíacas são as que mais matam nos arraiais e não raros são os casos de pressão alta.
De acordo com a Fundação Palmares, as comunidades, juntas, possuem por volta de 740 habitantes. Desse valor, desconta-se as migrações sazonais, o pessoal que vai para São Paulo, depois volta para o Nordeste, desce de novo para o Sul e retorna ao Norte num vai e vêm sem fim. Provavelmente, metade disso é de residentes fixos.

Os sobrenomes são poucos. Silva, Jesus, Sousa, Ramos, Santos. Basicamente essas são as famílias. Muitos casamentos endogâmicos, isto é, entre parentes, primo com prima, tio com sobrinha. Os sobrenomes vão se cruzando, se misturando. O casamento com pessoas de fora da comunidade é uma novidade das últimas décadas. Por isso, antigamente era muito comum bebês nascerem com defeitos físicos ou mentais. 

Muitos não queriam ouvir as coisas dos mais velhos porque achavam que era caduquice. Aí eles morreram e os descendentes viram que não souberam aproveitar, perderam isso para sempre. 

O testamento de um povo: o racismo que sofreram fez com que,  ao longo dos anos, os negros das comunidades substituíssem sua cultura, tradições, crenças pelas dos portugueses. No imaginário das pessoas, as coisas que vinham dos brancos eram melhores que as dos negros. Candomblé e dialetos tribais estavam ligados à estavam ligados à escravidão e por isso foram sendo abandonados. Enquanto isso, catolicismo e língua portuguesa foram adotados incondicionalmente.


A maior quebra nesse processo deu-se entre a geração dela e a anterior, ou seja, provavelmente na primeira metade desse século. A escravidão ainda se achava recente, coisa que muitos queriam esquecer. O pensamento era o mesmo que levou Rui Barbosa a queimar ingenuamente centenas de documentos relacionados à prática escravocrata no Brasil. O objetivo: "apagar" uma parte detestável da história. Ignora-se, com isso, o verdadeiro papel da História que é justamente se fazer lembrar de certos acontecimentos para que eles nunca mais se repitam. 

Sobraram algumas coisas apenas. O bendengó, uma dança que se faz aos pares e que fica boa com dez participantes ou mais, parecida com o samba. Ainda é ensinado na escola do vilarejo de Barra. A utilização de alguns instrumentos, como o tambor, o pandeiro e o triângulo - esses dois últimos já frutos de uma mistura de tradições. Além de rezas, "excelências" (para encomendar as almas mortas para o outro mundo) e as cantigas de roda.

"Os velhos estão acabando e, se não tomarmos cuidado, com eles vão embora muitas das tradições que nos restam", alerta Carmo Joaquim da Silva, presidente da Associação de Desenvolvimento Comunitário Rural de Barra do Brumado, Bananal e Riacho das Pedras. Carmo é o líder local e tenta trazer de volta para o quilombo a cultura dos negros que se perdeu. Para isso, tem recebido apoio de grupos de consciência negra de Salvador. Em Barra e Bananal comemora-se o dia 20 de novembro (Dia da Consciência Negra) aniversário da morte de Zumbi e não o 13 de maio que, segundo eles, foi um "acordo de reis e da Europa para vender seus produtos".

"Nosso povo ainda não tem consciência da sua raça". Carmo Joaquim conta que as coisas começaram a mudar de uns dez anos para cá. "Antes a gente mesmo se inferiorizava, achávamos que não tínhamos acesso a certas coisas porque éramos negros e concordávamos com isso. A palavra "negro" era uma ofensa. Preferíamos preto, moreno." Há mais ou menos dez anos resolveram colocar o tambor, o pandeiro e o triângulo nos cultos da igreja. "Aí o padre disse que finalmente estávamos usando o que é nosso."

"Nos últimos 300 anos, nossa cultura se perdeu, foi tomada. Não houve resistência. Queremos que o pessoal que trabalha conosco em Salvador nos explique o que perdemos", completa Carmo Joaquim.
Durante séculos, as comunidades de Barra e Bananal passaram por um lento, mas contínuo, processo de apagamento de sua cultura. Ora por influência do racismo externo e o bombardeamento de valores ocidentais, ora por uma autocensura que se tornou maior após a abolição da escravidão.

Porém, durante esse último quarto de século a região sofreu sua maior transformação. Parte das terras dos povoados foram desapropriadas para a construção do açude Público Luiz Vieira, que serve principalmente aos municípios de Livramento, Dom Basílio e Rio de Contas. A obra realizada pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS) visava retirar esses municípios da estagnação econômica, usando a água tanto para consumo das cidades quanto para a irrigação. Porém, a barragem não democratizou o lugar.

Segundo a Fundação Cultural Palmares, a barragem do rio Brumado coloca em xeque as possibilidades de reprodução sócio-econômica das coletividades negras de Rio de Contas. O enchimento do lago significou a perda de mais de 50% das terras férteis disponíveis, além de ter sido responsável pelo fim do arraial de Riacho das Pedras. Muitos de seus moradores se estabeleceram em terras mais acima, nos outros dois povoados ou simplesmente migraram para outras cidades da Bahia ou mesmo São Paulo. A implementação deste projeto estatal beneficiou apenas pequenos, médios e até grandes produtores das cidades circunvizinhas de Livramento de Brumado e Dom Basílio.

Desde 1983, com o enchimento do lago, as comunidades  aguardam ressarcimento do DNOCS pelas áreas submersas. Em uma manobra injusta, o Departamento estipulou que a indenização seria feita apenas pelas benfeitorias, ou seja, casas, dispensas, celeiros e coisas do gênero. Vários moradores não possuíam certificados de propriedade das terras, apesar de ninguém discutir sua posse secular. Desconsideravam-se as terras. É mais ou menos como ser enxotado de casa e ser pago apenas pelos armários que você deixou.

Em um relatório de agosto de 1999 do próprio DNOCS, o órgão reconhece a situação de pobreza a que estão submetidos os moradores e que também não realizou o pagamento às famílias sem títulos de terra.

Porém, de acordo com Carmo Joaquim da Silva, presidente da associação de moradores, muitos moradores possuíam escrituras das terras que o DNOCS teria levado sob a promessa de melhorar a comunidade, construir uma agrovila, escolas públicas, trazer médicos. "Isso foi na década de 70 e, como não havia ninguém que nos abrisse a cabeça, nós demos o que eles pediram."

Segundo Carmo, depois a empresa pediu que todos abandonassem as terras. "O pessoal de Riacho das Pedras só saiu com o toque da água. Um devoto de Bom Jesus colocou o seu oratório na cabeça e, quase coberto de água, saiu chorando. Antes da titulação das nossas terras pelo Governo éramos considerados invasores em nossa própria casa."

Com o título de comunidade remanescente de quilombo, a propriedade das terras voltou a eles em definitivo. Porém aguarda-se ainda as compensações prometidas pelo DNOCS desde 1984. Projetos de urbanização dos vilarejos, melhoria de saneamento básico, treinamento de mão de obra especializada para o trabalho agrícola e programas de assistência social estão entre as promessas. Os projetos gerariam empregos para absorver os trabalhadores desempregados que foram tentar a vida nas cidades do Sul e Sudeste e agora estão voltando devido à crise econômica. 

O solo do sertão é perfeito para o plantio de frutas. E nas comunidades a coisa não é diferente. Abacaxi, mamão, manga, romã, laranja, jaca, banana. Além de milho, feijão, algodão e a boa e velha mandioca. Barra possui uma moenda comunitária para a produção de farinha. E um dos principais itens, o projeto de irrigação de terras cultiváveis está com o cronograma atrasado. De acordo com o próprio DNOCS, as obras deveriam ter começado em março desse ano para terminar até dezembro. Mas até agora nada.



A comunidade cobra a curto prazo, outras compensações que viriam na forma de instalação de um meio de comunicação com o mundo exterior (o telefone mais próximo fica a 15 quilômetros em Rio de Contas e celular não pega ali) e a criação de um espaço cultural com biblioteca, computador, televisão e vídeo para ser montado um arquivo da comunidade e guardadas as tradições que restaram. A abertura de uma escola até a 8ª série para que não necessário as crianças viajarem todo dia para Rio de Contas e a construção de uma escola agrícola para orientar os jovens a trabalharem na própria terra ao invés de migrarem às grandes capitais.

A briga com a empresa do Governo está na Justiça. Porém o horizonte de perspectivas anda distante apesar de soluções tão simples. Simples e difíceis como os contrafortes da Chapada Diamantina. Turistas visitam as comunidades, muitos deles estrangeiros. Querem ver de perto uma cultura que vem se mantendo a duras penas ao longo dos séculos. Uma cultura que, se nada for feito, seremos os responsáveis por cobri-la com as águas do esquecimento. Uma cultura que tem como a palavra falada seu principal condutor.


O Governo agora vem se mexendo, mas ainda em um rito lento para a espera secular dessas pessoas. Barra e Bananal são apenas uma das 724 comunidades remanescentes de quilombo que existem no Brasil. Cada uma com sua história, cada uma com seus problemas. Porém todas unidas na tentativa de sobreviver em uma sociedade que estipula valores de certo e errado como se ela mesmo fosse infalível. Que julga e condena à exclusão quem não segue seus preceitos. Que se diz pluralista e liberal quando na verdade todos sabemos que o valor dado ao negro ainda é inferior do que o dado ao branco. Isto não é uma crítica apenas ao governo e sim a todo nós. Que tipo de democracia estamos construindo em que cismamos em pisar nas minorias? Se é que podemos chamar de minoria 2 milhões de pessoas que pedem para serem reconhecidas e tratadas, não com privilégios - apesar da imensa dívida que o Brasil tem com os descendentes de escravos - mas sim com igualdade.

Quilombos no Brasil

Existem classificadas 724 comunidades remanescentes de quilombos no país, totalizando mais de 2 milhões de pessoas, distribuídas em 30,6 milhões de hectares de terra. Terras que não necessariamente lhes pertencem, apesar da ocupação secular. E como não possuem certificados de propriedade, ficam à margem da sociedade, não podendo, por exemplo, pedir empréstimo em banco para plantar.

Desde 1998, o governo vem conferindo a essas comunidades títulos que atestem a descendência de antigos quilombos e passando para as mãos dos atuais moradores as terras em definitivo. Até agora, 18 comunidades já receberam seus títulos, restando 706.

5. Aspectos Econômicos

A ocupação da Chapada Diamantina começou com a exploração da pecuária, a partir da expansão das fazendas de gado. Na última década do século 17, já toda a Bacia do Paraguaçu estava doada a proprietários privados.

Imensas fazendas ocuparam, gradualmente, os vales dos rios e planaltos até que a mineração tomasse lugar em pequenas glebas, com lavras e atividades de abastecimento das minas - policultura agrícola e pecuária - desenvolvendo circuitos intra e inter-regionais. A descoberta do ouro, nos últimos anos do século 17, no interior do país, inaugurou um novo ciclo econômico no Brasil e foi fator decisivo na ocupação de seu interior.

O ciclo do ouro teve início na Bahia, a partir das descobertas nos Rios Itapicuru, de Contas e Paramirim, estendendo-se pela margem esquerda do Rio São Francisco, sendo elas responsáveis pela atração de intenso fluxo migratório da própria Bahia, Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo; além da fundação e remanejo de numerosas vilas; criação de Casas de Fundição em Jacobina e Rio de Contas; desmembramento de freguesias, etc. Este ciclo perdurou por quase um século na região, propiciando o envio de riquezas à Coroa Portuguesa e contribuindo para a ocupação e colonização da região.

A exploração do ouro e do diamante fez surgir, por ordem da Coroa Portuguesa, uma estrada que cortava a Chapada Diamantina no sentido norte-sul ligando Jacobina a Rio de Contas, principais pólos de produção aurífera contando inclusive com casas de fundição. Conhecida como Estrada Real e em vias de ser tombada como patrimônio histórico, era utilizada por tropeiros, que faziam o comércio da região, e pela Coroa Portuguesa, que fazia transportar a riqueza extraída do solo brasileiro até a Corte.

Com o declínio da produção aurífera e o esgotamento do ouro de aluvião, outro processo se estrutura com o ciclo do diamante muito embora tenha durado apenas 26 anos. Este novo ciclo de mineração foi responsável pelo surgimento de uma nova geração de assentamentos humanos na região.

A partir de Mucugê, a lavra de diamantes expandiu-se para o Sul, atingindo o vale do Rio de Contas dando novo alento a vilas como Barra da Estiva, Rio de Contas e Caetité, e para o norte, criando novas povoações como Xique-Xique (Igatu), Andaraí e Lençóis entre outras, até atingir Morro do Chapéu, definindo-se, assim, a região que passou a ser conhecida como Chapada Diamantina. Em 1845, foram descobertos os ricos garimpos do Rio Lençóis, que despertaram imediatamente o interesse dos compradores de diamantes, instalados em Mucugê.

Deslocaram-se para ali garimpeiros, vindos das lavras já em decadência de Minas Gerais, como Tijuco e o Grão Mogol, e da Bahia, como Jacobina, Rio de Contas e Chapada Velha. Com estes, chegaram também comerciantes da Capital e senhores de engenho do Recôncavo, com os escravos que construíram seus territórios à base de uma economia extrativista. O arraial foi transformado na Comercial Vila de Lençóis, pois ali se instalaram grandes negociantes, que faziam transações diretamente com mercadores franceses, ingleses e alemães.

Transcorrida apenas uma fase de quase um quarto de século, de 1845 a 1871, suficiente para propiciar uma nova organização espacial na Chapada Diamantina e promover grandes fortunas para uma aristocracia sertaneja, o ciclo do diamante entra em declínio com a concorrência das jazidas sul-africanas, descobertas em 1865. No início do século 20 os diamantes de aluvião tornaram-se escassos e difíceis de garimpar.

Paralelo ao ciclo do diamante e intrinsecamente ligado a este, a Chapada Diamantina conheceu outro ciclo, o do coronelismo, em que famílias poderosas disputavam o poder sobre o território. Esse ciclo teve na figura do Coronel Horácio de Matos o maior dos seus representantes.
Horácio de Matos teve grande poder político na Bahia, atraindo a atenção dos governos estadual e federal em diversas ocasiões, tanto nas lutas pelo território quanto contra os governos estadual e federal e ainda na perseguição à Coluna Prestes. No decorrer da história, o "coronel da Chapada" deixou registrada a sua marca lendária que inspirou títulos de vários autores. 

Entre 1987 e 1997 a economia da região foi reaquecida com base na extração mecanizada do diamante até a proibição definitiva do uso de dragas e da atividade que causava muito mais prejuízos ao ambiente natural, especialmente nas nascentes e leitos dos rios tributários da bacia do Paraguaçu. A criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina em 1985 eliminou definitivamente qualquer possibilidade de garimpo no interior do parque. A atividade, assim, passa para a clandestinidade.

Após séculos de exploração do diamante, o garimpo já não ocupa mais a mesma posição de destaque na economia da região. Atualmente as atividades econômicas que prevalecem são a agricultura e o turismo.

A agricultura tem trazido certos danos: o rio Paraguaçu é um dos mais ameaçados e já teve o seu leito assoreado pelo garimpo no passado. O Ecoturismo é uma das atividades que mais crescem, sendo necessário pensá-lo de forma verdadeiramente sustentável. A atividade turística encontrou na região um rico e diversificado cenário paisagístico, caracterizado por formações rochosas singulares, bem como pela existência de inúmeras cachoeiras, poços, cavernas, lagoas etc. Ao mesmo tempo, verifica-se que seu desenvolvimento já causa efeitos e impactos positivos e negativos para a comunidade local e o meio ambiente. Apesar de tudo, muitos moradores locais, acreditam que o turismo é a atividade que pode melhorar a vida de todos, e trazer o desenvolvimento. Visando minimizar os impactos, preservando a riqueza ambiental e a qualidade de vida das comunidades envolvidas, sua prática deve possibilitar uma nova consciência a todos, através da Educação Ambiental. O ecoturismo deve apresentar-se como um caminho para a busca de uma qualidade de vida que valorize novos conhecimentos, oportunidades de interação e equilíbrio com meio ambiente.

Hoje, com o garimpo reduziu drasticamente, e, com chegada do turismo, a Chapada Diamantina transformou-se em sinônimo de espírito de aventura. Graças aos esforços de muitos, as riquezas naturais que compõem esse belíssimo cenário agora estão destinadas a fazer parte da vida das próximas gerações.

Em 1985 foi criado o Parque Nacional da Chapada Diamantina. A sua grandiosidade é o cenário perfeito para turistas de todo mundo à procura de fortes emoções, dispostos a enfrentar aventuras pelo enorme complexo de vales, grutas, cavernas, cânions, platôs, campos rupestres, e piscinas naturais, sendo a maioria desses lugares, desconhecidos e intocados pelo homem.

Centenas de cachoeiras monumentais abrangem toda a serra em volta do parque, com quedas de todos os tamanhos, cada uma com seu grau de dificuldade de acesso, mas sempre com algo em comum: a abundância de águas cristalinas e avermelhadas.

Tamanha generosidade da natureza, inexplicavelmente, faz com que muitas pessoas que passam por suas sinuosas trilhas, sintam uma energia especial, algo realmente misterioso que gratifica a persistência e a coragem de seus desafiadores.

Grande parte do sentimento de conquista, satisfação e realização, atribuída aos praticantes de trekking ao final de uma complicada trajetória, é semelhante às experiências descritas pelos peregrinos, que definem essas longas jornadas como um convite ao autoconhecimento, a exemplo de Santiago de Compostela, a Espanha.

6. Esboço de Gestão Ambiental para a Região

Antes de propormos um esboço de gestão ambiental para a Região da Chapada Diamantina, gostaríamos de abordar alguns aspectos que julgamos relevantes.  

Analisaremos questões relacionadas à flora, fauna, bacias hidrográficas, a interdependência entre estes e outros fatores e um conjunto de propostas e procedimentos que julgamos importantes.

No passado, as matas de planalto ocupavam quase toda a borda oriental da Chapada Diamantina,  sendo estas as matas mais devastadas na região devido à retirada de madeira e o implemento de grandes áreas de pasto.

As matas de planalto são florestas estacionais semideciduais em que se sobressaem pela abundância Copaifera langsdorffii, Pogonophora schomburgkiana, Protium heptaphyllum, Aspidosperma discolor, Pouteria ramiflora, Micropholis gardneriana e Schoepfia obliquifolia, espécies que apresentam marcantes padrões de deciduidade. 

O estrato superior destas matas é relativamente maior que das demais matas da região com cerca de 10 a 20 metros, formado principalmente por Copaifera langsdorffii, Pogonophora schomburgkiana, Protium heptaphyllum, Aspidosperma discolor e Pouteria ramiflora; subdossel com cerca de 6-8m constituído por Micropholis gardneriana, Schoepfia obliquifolia, Mycia detergens e Pouteria torta; e subosque composto especialmente de espécies de Rubiaceae e Melastomataceae, e indivíduos jovens das espécies que compõe o estrato superior. Entre as lianas, destacam-se Ruellia affinis (Schrad.) Lind. (Acanthaceae), Coccoloba confusa How (Polygonaceae), Bauhinia sp. (Leguminosae) e Phryganocidia corimbosa (Vent.) Bur. & K. Schum. (Bignoniaceae). Epífitas e hemiparasitas são raras.

À semelhança dos padrões de distribuição geográfica encontrados para a flora do campo rupestre e para matas ciliares, as espécies encontradas nas matas de planalto da Chapada Diamantina apresentam principalmente padrões de ampla distribuição geográfica, ocorrendo em diversas formações florestais, como Hirtella glandulosa, Aspidosperma discolor, Tapirira guianensis, Richeria grandis var. grandis, Protium heptaphyllum, Calyptranthes lucida, Eugenia florida, Myrcia rostrata, Myrciaria floribunda, Calophyllum brasiliense, Alchornea triplinervia, Copaifera langsdorffii, entre outras. Espécies com padrões de distribuição mais restritos foram menos comuns, como Myrcia blanchetiana e M. detergens, somente registradas em matas da Serra do Espinhaço.

Fauna das Florestas

Peixes
 
O número médio de espécies coletadas neste ecossistema foi igual a cinco sendo que para a região do Marimbus do rio Santo Antônio existe registro na bibliografia de um número muito maior de espécies. A maior forma de agressão à ictiofauna foi, a introdução de espécies, havendo registro de três espécies não-nativas. No rio da Volta (Lençóis), a presença de substâncias tóxicas residuais da atividade de cultivo de café, segundo moradores da região, pode ter eliminado do rio espécies forrageiras como lambaris e piabas, comprometendo a rede trófica no rio. Já nas partes mais baixas, principalmente no rio São José em Lençóis, e em outros rios na área afetada pelo garimpo de diamantes, observa-se alto grau de degradação, como conseqüência desta atividade que representou o principal fator de impacto ambiental, originando graves problemas como a presença de grandes áreas de matas destruídas ao longo dos cursos d’água, assoreamento e o comprometimento do uso da água.

Anfíbios

Nas matas próxima ao Município de Lençóis, encontramos o maior número de espécies (pelo menos 21). A composição das comunidades das matas apresentaram espécies comuns aos outros ambientes estudados, principalmente a Caatinga e o Cerrado. O constante desmatamento e a conseqüente fragmentação das áreas florestadas estão contribuindo para a presença de espécies características de ambientes abertos, como o caso de Leptodactylus troglodytes e Bufo granulosus.  

Répteis

Na mata foram encontradas espécies típicas de folhedo como Coleodactylus meridionalis, uma lagartixa de apenas 30 mm de comprimento (sem a cauda) e Micrablepharus maximiliani (um lagarto de pequeno porte que alcança aproximadamente 40 mm de comprimento sem a cauda).  Além dessas espécies, encontramos exclusivamente em matas semi-decíduas da Chapada Diamantina Enyalius bibroni, um lagarto de hábitos arborícolas. Outras espécies aí observadas estiveram também presentes em outros ambientes. Das serpentes presentes neste ambiente observamos Bothrops leucurus (jararaca), Micrurus ibiboboca (cobra coral) e Oxirhopus rhombifer (falsa coral). Spilotes pullatus (caninana).  Entretanto, provavelmente essas espécies podem ocorrer em outros ambientes.

Aves

Devido à vegetação mais densa, em áreas de mata é mais fácil detectar a presença das aves pelos sons que emitem que por visualização direta. Através de suas vocalizações pode-se também reconhecer as diferentes espécies. Algumas espécies ocorrem nos estratos mais baixos da vegetação, como as chocas; outras ocorrem na região média da vegetação e parte inferior das copas, como o surrucuá, a alma-de-gato e outros;  já a copa é o local preferido do japu, da escarradeira, dos sanhaços e de várias outras espécies.

A Chapada Diamantina é um dos principais pontos de turismo ecológico no Brasil. Situa-se no interior da Bahia, a 1.135 km de Brasília, encravada na Serra do Sincorá, a 427km do litoral (Salvador). Pode ser acessada pela rodovia BR-242, nem sempre bem conservada. A principal referência é o Parque Nacional da Chapada Diamantina, unidade de conservação sob responsabilidade da agência federal de meio ambiente (Ibama).

Em torno do parque situam-se as cidades históricas de Lençóis - principal pólo turístico, com aeroporto e infra-estrutura de hotéis e guias -, Andaraí, Mucugê e Rio de Contas, além da antiga Vila de Igatu, com suas ruínas de pedras, e pequenas cidades como Iraquara e Palmeiras. Elas integram nossas sugestões de roteiros, de onde em geral saem as trilhas para os ecopontos mais interessantes.

Ao lado do parque nacional existem também outras duas unidades de conservação na Chapada Diamantina: a Área de Proteção Ambiental (APA) de Iraquara/Marimbus, com centenas de cavernas, e o Parque Estadual Projeto Sempre-Viva, em Mucugê, voltado para estudo e pesquisa da flora da região.

É nesta região serrana, de topografia diversificada, que nascem rios que formam as principais bacias do Estado. São quilômetros de águas cristalinas que brotam dos cumes, escorrem pelas serras em cachoeiras, desaguam em planaltos e planícies, formando belíssimos poços e piscinas naturais.
Área de Proteção Ambiental Estadual Marimbus-Iraquara

Região: Nordeste
Estado: Bahia
Município: Lençóis, Iraquara, Palmeiras e Seabra
Bioma: Caatinga e Cerrado
Área: 125.400 há
Criação: Decreto Estadual nº 7.595 (05/06/1999)

Unidade de Uso Sustentável

            A Área de Proteção Ambiental possui 125.400 ha, localiza-se na região da Chapada Diamantina, no centro-oeste do Estado da Bahia, e abrange os municípios de Lençóis, Iraquara, Palmeiras e Seabra. Sua criação foi fundamentada na necessidade de haver um ordenamento do desenvolvimento social, econômico e turístico da região, associada à preservação dos recursos naturais, sendo eles: o Pantanal de Marimbus, as inúmeras grutas e morros de grande valor cênico.

O Pantanal Marimbus é um exemplo da tamanha biodiversidade da região da APA, que surpreendentemente surge no meio da Chapada Diamantina. As formações geológicas encontradas na área, possibilitam o surgimento de várias grutas e cavernas, além de cursos d'água subterrâneos. As formações montanhosas trazem para o local a beleza cênica, sendo conhecida por todo o País. Destaques para o Morro do Pai Inácio e o Morro do Camelo.

A Caatinga, o Cerrado e as áreas de transição com Mata Ciliar são encontradas na região. Grandes e pequenas cachoeiras com seus rios, compõem o belo cenário da APA. A água escura é uma característica marcante da região.

Devido a influência do clima, solo e relevo, a vegetação da APA apresenta ecossistema de Caatinga com variações, Cerrado, Campos e Florestas Estacionais, além de Matas de Encostas e Mata de Neblina. Encontramos na região espécies como a Janaúba (Himatanthus obovata), onde sua raiz é muito utilizada como planta medicinal. Orquídeas são freqüentemente encontradas nos campos, em meio às rochas, como por exemplo, o Epidendrum sp.

A variedade de ecossistemas encontrados na APA, como a Caatinga, o Cerrado, a Floresta Estacional, os Campos Rupestres e o Pantanal, contribuem significativamente para a manutenção de uma diversidade significativa de animais e vegetais na região da APA, apresentando espécies raras e ameaçadas de extinção, como é o caso do pintassilgo-do- nordeste (Carduellis yarellii), primatas e várias espécies de répteis que compõem a fauna local. Invertebrados são bem freqüentes na APA. Muitas espécies de serpentes são encontradas na região, dentre elas, a cainana (Spilotes pullatus anomalepis).

Devido ao intenso fluxo turístico, a economia local cresceu sensivelmente, aproveitando também as belezas naturais e a história local. Muitas pessoas, ao visitarem o local, gostaram e tornaram-se moradores. A rede de hotéis e pousadas cresce cada vez mais na região, principalmente na Cidade de Lençóis. O artesanato é uma atividade freqüente na região e está crescendo juntamente com o desenvolvimento turístico.

A unidade possui conflitos ambientais como: o garimpo ainda é uma grande preocupação na área, pois é uma agressão irreversível e violenta na Região da Chapada Diamantina. As pedreiras clandestinas também agridem o meio ambiente, retirando as pedras e descaracterizando a área e, assim, atingindo a biodiversidade local. Lembre-se que sempre que houver necessidade de alterar o meio natural da APA é importante está atento à Lei de Crimes Ambientais, pois dependendo da agressão, poderá ocorrer multas e até a prisão do responsável.

O acesso é feito através da BR-324, em direção a Feira de Santana, de lá, segue-se à Rodovia Federal BR-116, em direção a Cidade de Itaberaba, seguindo-se pela BR- 242, via de acesso para a Cidade de Lençóis e as outras cidades que abrangem a área da APA Marimbus/ Iraquara. Na região existe um aeroporto, onde partem vôos de Salvador e outras cidades. A viagem também pode ser feita de ônibus. E quando visitar, lembre-se: não jogar lixo no chão e zelar pela harmonia do ambiente.


Localizado no Município de Mucugê, Chapada Diamantina - Ba, o Projeto Sempre Viva, é o mais bem sucedido projeto da linha PED- Projetos de Execução Descentralizada, firmado pelo convênio MMA/PNMA/PED 96CV 00027/96, que integrou várias esferas do poder público, na construção de tecnologias e infra-estrutura para gestão dos recursos naturais, sendo os parceiros: o Ministério do Meio Ambiente, o Governo do Estado da Bahia, a Universidade Católica do Salvador, a Universidade Estadual de Feira de Santana, a Caixa Econômica Federal e a Prefeitura Municipal de Mucugê, que se empenharam para preservar e reproduzir uma variedade de sempre viva ameaçada de extinção, a Syngonanthus mucugensis Giulietti, ou sempre viva de Mucugê, implantando um moderno sistema de informação geográfica, proporcionando educação ambiental para escolas, implantando o Parque Municipal de Mucugê e promovendo o ecoturismo, com a preocupação de preservar o meio ambiente do município de Mucugê onde se tornou, um Centro de Excelência para a conservação da Chapada Diamantina, implicando na geração e distribuição de renda, qualidade de vida da população e servindo de modelo de sustentabilidade para o Brasil e para o Mundo.

 O Município de Mucugê localizado na microrregião da Chapada Diamantina surgiu por volta de 1844, quando foram descobertas jazidas de diamantes nos leitos dos seus rios, provocando uma desenfreada corrida em busca de pedras preciosas, que mais tarde deu origem ao Ciclo Diamantífero que durou por mais de um século. O Município possui uma área de 2.535 km² e apresenta uma população de aproximadamente 17.000 habitantes. A sede do Município, devido um conjunto arquitetônico bem preservado e suas características coloniais, onde inclui a mais nobre relíquia do ciclo do diamante, o Cemitério Santa Isabel em Estilo Bizantino, único do Brasil a ser tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (ISPHAN, 1980).

 Mucugê também abriga 52% do Parque Nacional da Chapada Diamantina com grande potencial turístico natural e histórico. Com o declínio do Ciclo Diamantífero, a coleta das sempre vivas exportadas principalmente para o Japão, Estados Unidos e Europa, tornou-se a principal atividade econômica das populações carentes de Mucugê e de seu entorno, que durou por mais de trinta anos. Devido a uma atividade de extração sem controle, a espécie foi dizimada em muitos campos, pondo em risco de extinção esta planta.  Assim, o Projeto Sempre Viva veio com o propósito de proporcionar uma atividade de reprodução, suficiente para criar uma alternativa na geração de renda para a população carente, através do artesanato com caráter sustentável, econômica e ambientalmente, garantindo a sobrevivência da espécie, repovoando os campos onde a espécie quase que desapareceu.

A área de preservação do Parque é estratégica para o abastecimento hídrico do Estado, (Rio de Contas e Paraguaçú), constituindo a principal área de carga destes mananciais e apresenta fatores relevantes como espécies endêmicas. Este Parque é um produto do Projeto destinado a proteger ecossistemas de Refúgio Ecológico Montano de vegetação rupestre de domínio fitofisionômico, que apresenta uma espetacular flora descrita por Magalhães (1966, citado por Standard, 1995), cuja ocorrência é restrita a locais altos e de temperaturas frias. Em 1996, Harley & Simonns, estudaram e caracterizaram a flora de Mucugê, apresentando para a comunidade científica, a grande importância da área para os estudos botânicos. Nesta região ocorre um fenômeno raríssimo que os ingleses denominam de “species pump” dos campos rupestres, expressão que significa bomba geradora de espécies.

O Parque abriga ainda, um alto grau de endemismo, e diversos registros históricos do período diamantífero que ocorreu no Município de Mucugê. O trabalho árduo de uma massa de mão-de-obra em busca do diamante na Serra do Sincorá resultou em trilhas, tocas, muralhas e outras construções, alterando todo o relevo da região. Hoje, esse local revegetado naturalmente, compõe um belo cenário paisagístico e constitui um patrimônio histórico para o município. As cachoeiras do Tiburtino e Piabinha formam um belo conjunto cênico (entre os canyons formados nos leitos dos rios, muito típicos da Chapada Diamantina), representam atualmente grandes atrativos ecoturísticos.

A área que está inserida este projeto corresponde às imediações do Parque Nacional da Chapada Diamantina, onde são encontrados ecossistemas peculiares associados a patamares de altitude, com cotas superiores a 1.200 m, cuja vegetação predominante associa-se a campos de altitude (gerais) e domínios rupestres, conceituado por Clements (1949, citado pelo Governo do Estado da Bahia, 1993) como "Comunidade Relíquia", e por Veloso & Goes-Filho como "Refúgio Ecológico".

PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DIAMANTINA

O Parque Nacional da Chapada Diamantina possui 152 mil hectares de cânions, ribeirões, corredeiras, cachoeiras, piscinas naturais, vales, chapadões e cavernas.

 Rica em diamantes, a Chapada viu florescer, a partir do século XVII, cidades como Lençóis, Rio de Contas, Andaraí, Mucugê e o minúsculo distrito serrano de Xique-Xique do Igatu, a "Cidade de Pedra". Estas cidades nasceram com o ciclo do minério, no período da febre do diamante - e assim como rápido enriqueceram também rápido cairam no esquecimento, recuperando-se novamente com a chegada do turismo. É nesta região serrana de topografia diversificada, que nascem 90% dos rios, inclusive os três maiores da Bahia, que formam as principais bacias do estado: a do Paraguaçu, do Jacuípe e o Rio de Contas.

A pacata cidade de Lençóis, serve de ponto de partida para a maioria dos passeios ecológicos. Entre as outras cidades que circundam o Parque Nacional, ela é a que tem melhor estrutura turística. A 12 km da BR 242, a cidade dispõe de hotéis, pousadas, restaurantes, agências de turismo, comércio básico e lojas de artesanato e lembranças.

A Chapada é um verdadeiro jardim sem cercas, mesmo nos passeios mais curtos pode-se admirar a flora do parque, orquídeas, bromélias, sempre-vivas, velósias, mata-pau, flor de mandacaru e cactos são imagens freqüentes durante as caminhadas.

Somente no caminho de Mucugezinho ao Morro Pai Inácio, são encontrados cerca de 900 tipos de plantas. Em 3 km ao longo do rio Lençóis, há cerca de 100 espécies de árvores – nos Estados Unidos, ao todo são 150 espécies. Além da vasta vegetação o lugar é marcado pela sua formação vulcânica, cujas as pedras compõem um conglomerado das mais diversas tonalidades.

Entre as paisagens exuberantes da Chapada, a mais impressionante está localizada no Vale do Capão. A maior cachoeira do Brasil, (este dado está sendo contestado), foi descoberta por um aviador americano da década de 60. O nome dessa beleza fascinante é "Cachoeira da Fumaça". Para chegar ao topo é preciso encarar uma trilha de pedra íngreme e cansativa, mas ao final, a visão do cânion e da cachoeira compensam o esforço. De uma altitude de 420 m, as águas escorrem por uma estreita abertura e se dissipam antes mesmo de tocar o solo; daí o nome Cachoeira da Fumaça.

Especialistas afirmam que a formação geológica da Chapada teve origem num violento terremoto ocorrido há bilhões de anos, numa época em que os diamantes não passavam de pedacinhos de carvão - e isso explicaria a presença de tantas rochas e pedras espalhadas pela região. 

Com certeza o coração da Chapada é sua flora, por isso a consciência ecológica é fator obrigatório para quem quer conhecê-la. Como a Chapada Diamantina é rica em espécies de plantas, sua fauna não poderia ser diferente, existem vários tipos de animais vivendo livremente pelo parque, dentre eles podemos citar quatis, cutias, veados-mateiros, curiós, as temíveis onças-pintadas, capivaras, caititus, araras, periquitos auriverdes, sagüis, mocós, cobras-cipó, entre outros.

 
Proteger amostras dos ecossistemas da Serra do Sincorá, na Chapada Diamantina, assegurando a preservação de seus recursos naturais e proporcionando oportunidades controladas para visitação, pesquisa científica e conservação de sítios e estruturas de interesse histórico-cultural.

  ÁREA DA UNIDADE: 152.575,00 (ha)
Antecedentes Legais: A criação do Parque resultou de uma ampla mobilização de ambientalistas e comunidades dos municípios do entorno, conscientes da importância de preservar suas belezas cênicas.
Aspectos Culturais e Históricos
Com o surgimento do ciclo da mineração principalmente do diamante, na Chapada Diamantina, apareceram vários povoados. Na mesma época o plantio de café/algodão produziu o surgimento do coronelismo, o qual dominou a região e suscitou o surgimento de muitas lendas. Dentre estas as mais difundidas são a da Moça Loura e a do escravo "Pai Inácio".

Clima:
O clima é tipicamente tropical, com precipitações pluviométricas variando entre 750 e 1000 mm anuais, com 4 a 6 meses sem chuva.

Relevo:
O relevo apresenta-se bastante acidentado, com planaltos, serra quebradas e montanhas, as quais formam as margens do Parque. A altitude média fica em torno de 1.000 metros. O ponto mais elevado do PNCD tem aproximadamente 1600m.

Vegetação:
A vegetação é constituída por campos rupestres (nas áreas pedregosas das serras), campos gerais, cerrado, matas e capões (nos vales profundos). A flora da Chapada apresenta-se riquíssima, com predominância de orquídeas (Orchidaceae), bromélias (Bromeliaceae) e sempre-vivas (Eriocaulaceae) e canelas-de-ema (Velloziaceae). Há, ainda, uma grande variedade de plantas medicinais.

Fauna:
A fauna é constituída por espécies oriundas de diferentes ambientes, como felinos (onça-pintada e suçuarana), serpentes (jibóia, sucuri), capivara, veados, peixes, preás, mocós (roedores semelhantes a preás), cutias, coatis e antas. Esta última espécie é uma das mais ameaçadas de extinção na Chapada.






A preservação dos ecossistemas da Serra do Sincorá permitirá a manutenção de um banco genético importantíssimo para a pesquisa científica e a manutenção da biodiversidade. Além disto, será possível impedir a desertificação, ao evitar-se a destruição de nascentes. Finalmente, a exploração racional e ordenada do ecoturismo dará a população local uma alternativa econômica sustentável a longo prazo.


Entre os principais problemas que afligem a Chapada estão: garimpos artesanais (principalmente de diamantes), incêndios, caça clandestina e comercialização de plantas ornamentais e cristais que são retirados da área do Parque. Além destes, o gado levado para os gerais em épocas de estiagem, causa sérios danos a vegetação.
O Brasil é um dos países no mundo com maior variedade de orquídeas. Estudos recentes registram a presença de cerca de 2.500 espécies em nosso território, centenas das quais encontradas na Bahia. É neste estado que se situa em grande parte uma das regiões brasileiras cada vez mais apreciada e estudada por amadores e especialistas: a Chapada Diamantina, com serras espetacularmente coloridas e um conjunto florístico de riqueza incomparável. Estima-se que ali existam mais de 300 espécies de orquídeas, algumas raras e outras ainda praticamente desconhecidas.
          
Principais atrações da Região

 Cachoeira da Fumaça

O vento “borrifa” pelo ar, as águas da cachoeira de 340m de queda d´água e 420m de altura! Um dos caminhos que leva até ela foi feito para que o gado suba a serra, mas quem aproveita mesmo são os mais de 80 mil turistas que visitam o local por ano. A paisagem durante a trilha é de tirar o fôlego: de um lado o Morrão (outro cartão postal da Chapada) e do outro o Vale do Capão. Este é o chamado “Fumaça por cima”. Para fazê-lo os viajantes partem do vale. São cerca de 6 km de distância, 1,5 km deles via Serra do Sincorá.

O chamado “Fumaça por baixo” é para quem está com melhor preparo físico. São quatro dias e três noites em meio a cenários belíssimos.

Em ambos os casos é imprescindível o acompanhamento de guia local.

Morro do Pai Inácio

No km 231 da BR-242 está o ponto de partida para a subida ao Morro do Pai Inácio. São cerca de 20 ou 30 minutos sempre acompanhados é claro, de lindas cenas. No alto do morro, vista panorâmica - fonte de fotos de um dos principais cartões-postais do Brasil. Certamente você já viu os Três Irmãos em uma vinheta de comercial na TV ou num cartaz em uma feira de turismo.

Diz a lenda que um escravo chamado Inácio apaixonou-se pela esposa de um poderoso coronel da região que, ao descobrir o romance, mandou pistoleiros em seu encalço. Sem saída, no topo da montanha, Inácio saltou e... Para saber o final da história é preciso ir ao Morro para conferir...

Uma trilha pouco explorada é a Morro do Pai Inácio – Morrão. São 7km que valem a pena ser percorridos.

Serrano

           É o mais popular passeio de Lençóis, a menos de 1Km da cidade. O chão de seu leito parece mármore, as águas escuras como chá propiciam reconfortantes banhos em suas “banheiras” formadas pela natureza.

Salão de Areias Coloridas

A 10 minutos do Serrano; a área foi formada pela erosão de rochas graníticas e conglomerados de arenito. Fica a 1,5 km do centro de Lençóis.

Ribeirão do Meio

Ainda a partir de Lençóis via caminhada fácil a partir da Igreja do Rosário (rua dos Negros).

Essas atrações, mais Cachoeira Primavera e Poço Halley ou Poço Paraíso fazem parte do chamado “roteiro das cachoeiras” em Lençóis.

Cachoeira do Sossego

Partindo de Lençóis são 6 km de caminhada em trilha e dois através do leito do rio Ribeirão. São cerca de 3 horas de subidas e descidas e pedras a pular para chegar a essa bela cachoeira, cuja trilha exige bom preparo físico.

Cachoeira do Rio Mucugezinho/Poço do Diabo

Vários trechos têm poços formados. Lá está o chamado Poço do Diabo, a 22m de altura de um verdadeiro “trampolim”!

Poço encantado

Um dos ícones da Chapada. Entre abril e setembro e em certas horas do dia, os raios do sol passam por uma fenda cuja luz é refletida no espelho d´água. A cor azul intensa é mágica. Embora não pareça, suas águas têm 40m de profundidade e os mergulhos são permitidos somente com autorização do Ibama e acompanhamento de guia experiente. A atração faz parte da cidade de Andaraí.

Morro do Camelo

Fica ao norte da Chapada, ao "lado" do Morro do Pai Inácio. São 4 km de distância, com acesso através de carro e trilha. Sua altura é de aproximadamente 170m e altitude de 1090m.

Marimbus 

O passeio de barco a remo (canoa de madeira ou alumínio) pelo pântano da Chapada formado pelas águas dos rios Santo Antônio e Utinga é bastante tranqüilo. Várias espécies animais se fazem presentes neste “mini pantanal” baiano. 

Gerais do Vieira

Altiplano onde estão as mais lindas cenas do parque nacional. Guias e agências de receptivos locais organizam “expedições” que exploram o imenso vale. 

Vale do Capão

Faz parte do município de Palmeiras, cujo principal distrito é Caetê-açu. O vale de indescritível energia e beleza é destino obrigatório para quem visita a Chapada Diamantina.

Vale do Paty

A trilha Lençóis-Vale do Paty é uma das mais atraentes da Chapada. O caminho liga Lençóis à Andaraí, passando pelo Capão. São 70 km atravessando rios, canyons, vales, cachoeiras, serras e gerais, sugerindo como que um resumo de todas as atrações da chapada.

Dentre tantas atrações, a natureza também foi generosa no número de grutas e sumidouros (gruta ou fenda por onde passar um rio subterrâneo – desaparece em um ponto e surge em outro) na região. Muitas cavernas oferecem condições propícias para mergulho. Atente para os cuidados e equipamentos especiais para essa prática, além de obter autorização dos órgãos ambientais.

Lapa Doce

O turista pode visitar cerca de 1 Km dos mais de 24Km de extensão já mapeados. Essa é a terceira maior gruta do Brasil.

Torrinha

Fica na mesma região da Lapa Doce. Riqueza incomum de espeleotemas (estalactites e estalagmites – grosso modo, formação a partir do teto da caverna e formação a partir do chão da caverna respectivamente, ambos formados pela ação da água). É composta de grandes salões e há travessias nela que podem durar até 5 horas. Possui inscrições rupestres e formações que parecem ouriços.

Pratinha - Gruta Azul

Fica 7Km depois da Lapa Doce. A Pratinha é um verdadeiro oásis no sertão baiano.A água cristalina, inúmeros peixes e os micro-búzios fascinam. No local é praticada a Tirolesa, num nível bastante “light”, bem como o mergulho.

A caverna da Gruta Azul tem aproximadamente 120m, com profundidade de 1,5m a 2,5m. Faz parte da cidade de Iraquara, a 76Km de Lençóis. Está em propriedade particular.

Na Gruta Azul, ainda no complexo da Pratinha, a luz refletida no espelho d´água é cenário de intensa beleza. É permitido o mergulho no local.

Lapão

É uma das maiores grutas de quartzo da América do Sul e a segunda maior do Brasil. Diferencia-se das demais por ser formada de rochas areníticas e conglomeráticas (as demais são de formação calcária). Tem 1200m de extensão e cerca de 10m de largura com uma saída de 60m de altura! Nessa “porta”, o rapel é praticado.

Outros Municípios

Ibicoara

O município de Ibicoara fica 80 km de Mucugê e é o "novo destino" da Chapada Diamantina. Suas principais atrações são as imperdíveis: Cachoeira do Buracão, que fica em um Cânion sinuoso de 80m de altura, e a Cachoeira da Fumacinha com seu cânion es-pe-ta-cu-lar. Para chegar às cachoeiras é necessário pegar trilhas consideradas de média dificuldade.

Rio de Contas

Conta com grandes atrações e ainda é pouco conhecida. A cidade possui um casario incrivelmente preservado. São 414 prédios tombados pelo Patrimônio Histórico.

Trilhas (entre elas a "Caminho Real" - caminho de pedra construído no século XVIII para transporte do ouro), a Cachoeira do Brumado (70m de altura) e o Pico das Almas (1958m de altura, o terceiro maior do nordeste oferece bela vista para a Chapada) são algumas das atrações.

Igatu (Andaraí) 

Distrito de Andaraí, distante 114Km de Lençóis. A vila que já teve por volta de 15 mil habitantes, conta com menos de 500 e é uma verdadeira cidade de pedra. Acredita-se que Igatu ou Xique-xique (como era conhecida) foi descoberta por volta de 1840, por garimpeiros e eles é que fizeram as obras em pedra que você pode encontrar por lá. Foi um século de exploração e riqueza e a decadência no século 20, quando a maioria das casas foi abandonada. Os próprios garimpeiros chegaram a destruir ruas inteiras em busca dos últimos diamantes o que deu início aos cerca de 7 Km de ruínas que hoje podem ser visitadas.

6. 1 – Modelo Proposto

MODELO DE GESTÃO AMBIENTAL – CHAPADA DIAMANTINA

ASPECTOS GERAIS

O assoreamento de rios, os incêndios, o turismo predatório, a mineração artesanal, o comprometimento de mananciais, a destruição de espécies florestais e vegetais e muitos outros problemas atingem a região.

Há projetos que prevêem desde a prevenção dos incêndios e estratégias de monitoramento, até o planejamento de quais municípios não têm brigadistas voluntários. Mesmo assim os problemas persistem.

Mais de 70 mil hectares queimados em 2008. Focos de calor nas cabeceiras dos rios são capazes de destruir a vegetação e a matéria orgânica que segura a água. A Chapada é a cabeceira do Rio Paraguaçú, responsável por sustentar Salvador. Os únicos rios perenes da bacia estão lá. Os incêndios podem levar também à falta de água causada pelos incêndios, sobretudo em situações catastróficas como a daquele ano.
        
O fogo é usado em diversas ocasiões dentro do parque: seja para formação de pasto, colher sempre-vivas ou para a caça, já que a natureza se recompõe após o incêndio e atrai animais durante a regeneração. Aliás, este é um dos principais problemas. As chamas foram tão intensas que pode demorar muito para a floresta retomar seu crescimento. Por isso, muitas espécies da fauna devem morrer de fome. “Toda a área do parque ao sul de Mucugê foi destruída. Isso significa que algumas espécies da flora endêmicas destes campos rupestres (com pedras) foram extintas. As aves, que estavam se nidificando, devem ter perdido suas crias. A ação do IBAMA se completa com a ação dos órgãos estaduais, mas, ainda existe um hiato na ação destes agentes do Estado.


A decisão visa conter os constantes incêndios e ações predatórias que acometem o ecossistema do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD). A Justiça Federal em Jequié (BA) acolheu em parte pedido formulado em ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA) e concedeu, em 29 de julho último, liminar determinando que a União, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes (ICMBio) apresentem em, no máximo, 30 dias, plano de atuação específica na prevenção e combate aos incêndios no Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) e plano de reestruturação completa da unidade administrativa de gestão do parque, especificando os prazos previstos para implementação de cada atividade contante nos projetos.

A liminar determina, ainda, que os planos a serem apresentados pela União, o Ibama e o ICMBio prevejam medidas de incremento dos recursos humanos e materiais, incluindo, entre outras, contratação de servidores habilitados às funções necessárias à gestão da unidade, projeto de monitoramento aéreo e por câmeras via satélite, aquisição e manutenção de veículos automotores, bem como o aprimoramento do sistema de rádio.

Na ação civil pública, de autoria dos procuradores da República Ovídio Augusto Amoedo Machado, Ramiro Rockenbach e Wilson Rocha de Almeida Neto, o MPF/BA requereu que fossem adotadas medidas necessárias à preservação ambiental do parque, que encontra-se ameaçado por diversos atos predatórios e constantes incêndios, sem que haja qualquer atividade de fiscalização preventiva dos órgãos responsáveis. Além das queimadas, o PNCD está exposto a outras ações predatórias, como a caça, visitação irregular e extração clandestina de minerais.

Investigação realizada pelo MPF constatou que, desde o final de 2007, os incêndios ocorridos no parque estão ampliando seu potencial destrutivo devido à ausência de um planejamento de prevenção e de um combate eficiente.

A ação aponta, ainda, precariedade física, patrimonial e de recursos humanos para compor o quadro funcional responsável pela unidade de conservação: o parque dispõe de apenas cinco analistas ambientais responsáveis para 152 mil hectares e não possui veículos, equipamentos, motoristas, nem recursos suficientes para os períodos mais críticos, geralmente entre os meses de agosto e fevereiro.

Na liminar concedida, o juiz federal da Vara Única da Subseção Judiciária de Jequié afirma que houve negligência dos órgãos responsáveis, o que acarretou sérias consequências ao patrimônio cultural do estado, e que uma mudança significativa no âmbito da administração do parque se impõe. “A gestão do PNCD é seguramente deficiente e decorre de uma negligência histórica da União, que continua a ser praticada na atualidade, o que tem causado danos ambientais de dimensões ainda incalculadas, mas cujos indícios e dados preliminares revelam tratar-se de danos irreversíveis”, afirma o magistrado.

Nº do Processo: 2009.33.08.000254-5.

COMENTÁRIO

Serão necessárias visões mais abrangentes e iniciativas palpáveis que contemplem: a gestão das águas; as mudanças climáticas; o combate à desertificação e os efeitos da seca; o aprimoramento dos instrumentos legais e metodológicos de gestão dos recursos hídricos, como a outorga de direito de uso da água; o monitoramento da qualidade da água; os planos de recursos hídricos; a legislação de recursos hídricos; os estudos acerca da flora e fauna da região, o seu monitoramento e preservação; a implementação de planos de reflorestamento; a contratação de pessoal suficiente para atender às necessidades locais quanto à fiscalização, preservação e recuperação de áreas e o seu devido aparelhamento; o zoneamento econômico e ecológico (capaz de fornecer informações suficientes relativas ao potencial econômico da região, as áreas sensíveis e as melhores maneiras de intervir sem destruir), a recuperação de áreas degradadas pela exploração mineral etc.

Elencaremos, a seguir, uma série de propostas para a Região da Chapada Diamantina, mas que, na realidade, podem e devem ser aplicadas a todo o Estado e do Brasil.

1.      GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A construção de aterro sanitário em Lençóis e nas cidades de Palmeiras e Ibicoara, confirmada pelo governador da Bahia, Jaques Wagner durante  Seminário do Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA) sobre Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, em Salvador, vem atender a uma necessidade daquela região.

A batalha para a execução dessa obra é parte dos anseios do Projeto Nascentes do Paraguaçu que conta com três comissões integradas, que tratam de Resíduos Sólidos, cada uma representando uma das cidades contempladas.
No período de três anos, a comunidade, o poder público e as organizações não governamentais se envolveram para articular e executar iniciativas para a implantação desses aterros com modelos diferenciados de gestão, com foco na reciclagem e compostagem. As prefeituras municipais conseguiram os terrenos.

No projeto consta que a contrapartida do Estado seria a realização e conclusão das obras.

Os aterros sanitários representam o primeiro passo para a execução de um modelo eficiente de gestão de resíduos sólidos.

Determinados problemas ambientais e de saúde pública, considerados graves e muitas vezes irreversíveis serão evitados, como a contaminação dos recursos hídricos, do solo, do ar e proliferação de vetores de doença. Além de sensível diminuição dos catadores de lixo.

O aterro permite que se construa uma membrana que isola o lixo do solo consideravelmente e permite que o chorume, um líquido altamente contaminante, seja recolhido. Em Lençóis são produzidos cerca de nove toneladas de lixo por dia, segundo dados pesquisados pela empresa UFC Engenharia em 2004. Se levado em consideração a média nacional, cerca de 30% do lixo poderia ser reciclado, através de um programa de reciclagem e 60% poderia passar pela compostagem no aproveitamento de restos de alimentos para a formação de adubos naturais e enriquecidos. Nesse caso, a construção do aterro é apenas o começo para a implantação de um trabalho consistente e inteiro para a gestão de resíduos sólidos.

Aliar esse fato à implantação de um sistema de reciclagem, que envolve a coleta seletiva, em que os materiais são separados e levados às usinas especializadas deve ser a próxima medida.
Isso favorece a preservação ambiental e conseqüentemente a qualidade de vida de todos, além de gerar emprego e renda a muitos moradores.

Ao mesmo tempo em que todos comemoram mais esse ganho para o bem estar da comunidade é preciso estar atento às medidas pessoais e conscientes e que refletem decisivamente numa melhor qualidade de vida, como reduzir a produção dos resíduos sólidos, principalmente consumindo apenas o que for necessário, não utilizar sacolas plásticas em toda compra, reutilizar e reciclar materiais sempre que possível.

Com um aterro sanitário nas mãos e posturas conscientes no dia-a-dia, já temos um bom começo.

2.      TURISMO SUSTENTÁVEL

O crescimento da atividade turística, embora tenha colaborado com a visibilidade dos Municípios da região, não pode ser considerado como único fator para avaliar o desenvolvimento das localidades situadas na Chapada Diamantina. Há que se fazer um trabalho de conscientização com os moradores locais sobre a importância da preservação ambiental para a sobrevivência dos nichos ecológicos, para a elevação das condições de vida da comunidade e a manutenção da atividade eco-turística nos Municípios.

A visitação das áreas de grutas e cavernas, dos sítios arqueológicos e das zonas de matas, rios e cachoeiras deve seguir regras fundadas em leis que contemplem multas e sanções em caso de dano ao meio-ambiente. Ao lado disso, a Educação Ambiental deve ser estimulada.

O Projeto Mintegra, no Município de Lençóis, une ao trabalho de educação ambiental a questão da administração consciente do meio ambiente por parte de todos os segmentos sociais: gestores públicos, empresários, a comunidade e as escolas. A sua implementação do Mintegra teria como principal objetivo a sensibilização e a capacitação dos segmentos sociais para uma ação integrada em prol do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável local, com vistas à preservação deste rico patrimônio natural da humanidade. Tal iniciativa deve estender-se a todos os Municípios daquela região e do Estado da Bahia.

A região comporta a atração de inúmeros projetos turísticos, de dimensões variadas e para todos os gostos, requerendo, contudo, os necessários investimentos em infra-estrutura, aperfeiçoamento dos profissionais, ações efetivas que garantam a preservação da Natureza e melhoria dos modelos de gestão e intervenção aplicáveis àquela parte do Estado da Bahia, eliminando-se modelos predatórios.

3.      CRIAÇÃO DE NOVAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO

O levantamento detalhado das espécies animais e vegetais e dos ecossistemas deve conduzir à criação de novas áreas de preservação, capazes de garantir a biodiversidade e a continuidade de estudos científicos.

4.      VALORIZAÇÃO E RESGATE DOS QUILOMBOLAS E DA CULTURA LOCAL

Nenhum Modelo de Gestão Ambiental pode ir adiante sem a valorização da cultura local e dos remanescentes das antigas comunidades, como os quilombolas. Todas as manifestações culturais devem ser apoiadas e valorizadas, contribuindo, assim, para o fortalecimento da identidade destas populações e do seu sentimento de pertença. Aliás, tais comunidades, com os seus conhecimentos ancestrais e ocupação secular de tais regiões podem ser aliados importantes devido aos conhecimentos acumulados e práticas próprias, que, mesmo arcaicos, podem ser úteis.

5.      UM IMENSO MUSEU A CÉU ABERTO

A arqueóloga Maria Beltrão quer espalhar museus de pré-história no sertão baiano, ao redor do Rio São Francisco, onde existem sítios com idades entre 11 mil e 270 mil anos (período pleistoceno). O primeiro foi aberto em 1995, em Central, na margem direita, e o seguinte em agosto de 2004, em Angical, do outro lado do rio. Até 2006 estavam previstos os de São Desidério e Luiz Eduardo Magalhães, também na margem direita. Em 2004, Maria Beltrão recebeu o título de Chevalier des Arts et des Lettres, maior comenda do Ministério da Cultura da França, pelo trabalho no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. Os museus serão unidades avançadas de pesquisas da instituição.

A descoberta desses sítios, na década de 1980, permitiu contar como era o Brasil milênios atrás. Numa área que vai da Chapada Diamantina à divisa com o Tocantins, foram achados ossos e desenhos rupestres de animais pré-históricos, além de artefatos fabricados pelos ancestrais do homem que viviam na região. Foi ainda possível restabelecer parte do cotidiano.

No primeiro museu, o de Central, há painéis com reproduções desses animais e parte do material encontrado. Para o de Angical, ela recebeu R$ 60 mil do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e da Agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A manutenção e os funcionários serão pagos pelos governos locais. 

"Contamos com o apoio das prefeituras, que são o esteio de qualquer pesquisa arqueológica. Há muitos anos defendo que cada município tenha um arqueólogo, pois só assim os sítios serão preservados", diz Maria Beltrão. Além de contar a pré-história, ela pretende também, nesses museus, incluir o que ela chama de arqueologia histórica, ou seja, recriar a vida das pessoas após a invenção da escrita ou, no caso do Brasil, depois da chegada dos portugueses.

Acreditamos que a idéia deve ser ampliada, para outras regiões da Chapada, abrangendo o Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e Natural desta porção do Estado da Bahia, incluindo sinalização, melhoria da infra-estrutura, aperfeiçoamento profissional, unidades de pesquisa e aproveitamento da mão-de-obra local.

Uma das propostas é a de se transformar esta região em um gigantesco museu a céu aberto. Vilas e povoados que por ali se espraiam são testemunhas quase que intactos da história da colonização do interior do Brasil.

A Estrada Real, construída pelo Império Português, ligava as lavras de Jacobina e Rio de Contas, entre os séculos XVII e XVIII. Propõe-se a criação de um Roteiro Ecoturístico seguindo o traçado da Estrada Real. Tal estrada remetia ao antigo caminho seguido pelas boiadas.

6.      ACESSO, PRESERVAÇÃO E ESTUDO DAS CAVERNAS E GRUTAS DA REGIÃO (POSTURA RACIONAL)

Caverna (do latim cavus, buraco), gruna ou gruta (do latim vulgar grupta, corruptela de crypta) é toda cavidade natural rochosa com dimensões que permitam acesso a seres humanos. Podem ter desenvolvimento horizontal ou vertical em forma de galerias e salões. Ocorrem com maior freqüência em terrenos formados por rochas sedimentares, mas também em rochas ígneas e metamórficas, além de geleiras e recifes de coral.

São originárias de uma série de processos geológicos que podem envolver uma combinação de transformações químicas, tectônicas, biológicas e atmosféricas. Devido às condições ambientais exclusivas das cavernas, esse ecossistema apresenta uma fauna especializada para viver em ambientes escuros e sem vegetação nativa. Outros animais, como os morcegos, podem transitar entre seu interior e exterior. As cavernas também foram utilizadas, em idades remotas, como ambiente seguro e moradia para o homem primitivo, fato comprovado pela imensa variedade de evidências arqueológicas e pela arte rupestre. Em alguns casos essas cavidades também podem ser chamadas de tocas, lapas ou abismos. Os termos relativos a caverna geralmente utilizam a raiz espeleo-, derivada do latim spelaeum, do grego σπήλαιον, "caverna", da mesma raiz da palavra "espelunca".

As cavernas são estudadas pela espeleologia, uma ciência multidisciplinar que envolve diversos ramos do conhecimento, como a geologia, hidrologia, biologia, paleontologia e arqueologia. Além da importância científica, a exploração de cavernas representa um grande papel no turismo de aventura (ou ecoturismo), sendo uma parte importante da economia das regiões em que ocorrem.

Com o desenvolvimento da espeleologia e o mapeamento das cavernas, muitas delas se tornaram atrações turísticas, devido à beleza dos espeleotemas e ao ambiente inusitado. As cavernas visitáveis são geralmente administradas pelas municipalidades (no caso de parques) ou proprietários das terras onde se localizam suas entradas. Para garantir a segurança dos visitantes e a preservação do patrimônio natural, a maior parte das cavernas possui taxa de ingresso e é obrigatória a presença de guias especializados. Em muitos casos, a quantidade de pessoas em um determinado período é limitada. Cavernas muito grandes, com formações raras ou ecossistemas frágeis, costumam ter limitações da área visitável ou do tempo de permanência, sendo necessária autorização especial para contornar essas limitações. Casos especiais podem incluir o acampamento e pernoite dentro da caverna.

Cavernas turísticas podem ser visitadas em seu estado natural ou com adaptações. No primeiro caso, os turistas devem utilizar equipamentos semelhantes aos utilizados pelos espeleólogos. No mínimo as roupas, calçados, capacete e equipamentos de iluminação devem ser utilizados por todas as pessoas que se aventurem em uma caverna sem adaptações. Outras cavernas podem sofrer adaptações para receber turistas em toda a sua extensão ou ao menos em pequenos trechos visitáveis. Entre essas alterações, as mais comuns são passarelas, rampas, escadas de acesso, cordas e guarda-corpos, que facilitam o acesso mesmo para visitantes com mobilidade reduzida ou baixo preparo físico. Outras cavernas recebem iluminação artificial para facilitar o deslocamento e também para destacar os espeleotemas.

A Chapada Diamantina concentra o maior acervo de grutas e cavernas da Bahia. Entre paredões rochosos, vales e chapadões, em meio à mata cerrada, as grutas guardam verdadeiras esculturas naturais, lagos e quedas d’água em cenários paradisíacos.  Munidos de lanternas e acompanhados de um guia local, a pedida para os vistantes é desbravar estas belezas da natureza, encravadas no coração da Bahia. A Gruta Azul, onde os raios de sol brincam sob o espelho de águas cristalinas, refletindo tons azulados; o vasto sítio arqueológico da Gruta dos Ossos; a Gruta do Lapão, entre as maiores de quartzo da América Latina; e a vasta extensão da Gruta dos Brejões são apenas uma amostra da diversidade do ecoturismo local, regado a preciosidades históricas e naturais.

 Propostas:

·         Limitações da área visitável ou do tempo de permanência;
·         Exigência de equipamentos adequados pelos visitantes;
·    Exigir que os visitantes disponham de sacos para a colocação de lixo, que, em nenhuma circunstância, deverá ser jogado nas grutas ou cavernas;
·         Cobrar taxas de ingresso;
·         Exigência do acompanhamento de guias especializados;
·         Proibir a retirada de qualquer material  das mesmas e cobrar multas em caso de desrespeito ás normas;
·      Criação de um centro de estudos nas áreas de Espeleologia, Arqueologia, Antropologia e Geologia na região da Chapada Diamantina e de um museu especializado nestas áreas científicas;
·         A Bahia possui um dos mais avançados programas de mapeamento de cavernas da América Latina. Acreditamos que o local adequado para a criação de um centro de excelência em Espeleologia seria a Chapada Diamantina;
·         Estabelecimento de intercâmbio com outros centros mundiais de referência nestes campos da Ciência;
·         Melhorar a infra-estrutura e as condições de segurança nas cavernas e grutas, assim como no seu entorno, quando isso não levar à descaracterização das mesmas;
·  Incentivar o ecoturismo e atrair empreendimentos que atentem para as questões de preservação ambiental;
·         Melhorar continuamente a qualidade dos profissionais que atuam na região.

7.      EXPLORAÇÃO DE DIAMANTES

A economia da Chapada Diamantina teve seu esplendor em meados do século XIX, quando exploradores mineiros deixaram as suas terras e dirigiram-se à região em busca das pedras preciosas que tanto encantavam a nobreza nacional e européia da época.  Inicialmente, como matéria prima usada por peritos joalheiros na confecção de valiosas jóias e, posteriormente, na indústria, contribuindo, significativamente, para a  riqueza do País.

A partir de década de 1940, a próspera economia lavrista entrou em  declínio,  sofrendo  seu golpe fatal, em 1997, com o fechamento dos garimpos, numa ação conjunta do IBAMA, DNPM, CRA, órgãos dos governos federal e estadual,  usando ostensivo apoio policial, uma verdadeira operação de guerra contra humildes e desprotegidos garimpeiros.

 À época, o então Secretário de Planejamento, Luiz Carrera, hoje, deputado federal, diante da absurda medida e violenta ação sobre pretexto de preservação do meio ambiente, acenou com a possibilidade  da criação de oportunidades de emprego  para absorver a mão de obra ocupada nos garimpos. Lamentavelmente, as promessas não foram cumpridas e as  conseqüências negativas não tardaram   acontecer  com o aumento da miséria e da   marginalidade de significativa parcela da população,  particularmente, no município de Andaraí.

 Não obstante as belezas naturais, a riqueza da Chapada Diamantina não está  somente no turismo, cujos modestos resultados  econômicos são discutíveis, mas, na exploração das ricas  reservas  de diamantes existentes no seu subsolo, através de um projeto de desenvolvimento auto sustentável da região. A exploração do  valioso minério com  instrumentos rudimentares é inviável. Nos dias atuais,  resultados compensadores podem ser alcançados com o uso de motores com bombas de sucção, hoje, proibidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente – IBAMA. As exigências burocráticas do Departamento de Produção Mineral -DNPM, para autorizar a exploração de garimpos nos municípios de Andaraí, Lençóis, Mucugê, Palmeiras, Seabra, entre outros, são inaceitáveis e  longe do alcance dos garimpeiros, sem apoio governamental. Cerca de 80 garimpos foram fechados. O fim do garimpo levou à estagnação econômica e ao êxodo populacional.

A solução para exploração de diamantes está no incentivo e apoio à criação de cooperativas de garimpeiros,  como já existem em várias partes do país, a exemplo de Diamantina, Minas Gerais, com assistência técnica, financeira  e  cuidados na preservação do meio ambiente, visando o fortalecimento da economia regional,  e,  em conseqüência,  a redução da pobreza que assola essa rica região da Bahia.

 É possível explorar diamantes em perfeita harmonia com a natureza. Defendemos a reativação dos garimpos na Chapada Diamantina, através de um projeto de desenvolvimento auto-sustentável, capaz de superar e vencer as dificuldades em que se encontra a economia regional.

7. Conclusão
Conforme pudemos constatar, trata-se de um assunto apaixonante, que envolve diversas disciplinas e traduz uma necessidade urgente: garantir o desenvolvimento de uma das regiões mais importantes da Bahia, sem que isso se traduza na destruição de mananciais, da flora ou da fauna ou em sua descaracterização cultural.

Procuramos mostrar alguns dos aspectos envolvidos e apontar caminhos que julgamos possíveis, aliando desenvolvimento e preservação ambiental, a partir de uma ótica que considera de igual modo todos os elementos envolvidos.

Nós entendemos que não se pode tratar a questão ambiental como algo estanque e isolado. Todas as variáveis devem ser consideradas. Defendemos uma visão holística e a mudança de paradigmas.

Não se pode mais considerar os problemas que se avolumam e exigem soluções exeqüíveis com a mesma ótica de décadas atrás. A partir deste modo de pensar, cremos que esta e outras questões, sejam elas locais, estaduais, regionais, nacionais ou planetárias, requerem de todos nós perspectivas e modelos de ação diferentes dos atuais.

A Chapada Diamantina, uma das regiões mais belas de todo o planeta e com um potencial econômico ainda pouco explorado, carece de intervenções capazes de fazê-la alçar-se à posição que merece ocupar em nossa economia e no contexto geral do Estado e do País.

A nosso ver, não se trata apenas de se buscar um Modelo de Gestão Ambiental para aquela região, mas, sobretudo, de aplicar-se um Plano de Desenvolvimento que tenha, na questão ambiental, um dos seus principais vetores. O mesmo pode ser dito em relação a toda e qualquer região do orbe. Mais do que soluções meramente locais, que muitas vezes levam à superposição de ações entre as diversas esferas de poder, carecemos de uma maior cooperação entre os diversos entes federativos e participação da sociedade civil organizada.

A diversificação da economia, a melhoria da infra-estrutura, a valorização do ser humano, a preservação ambiental aliada ao desenvolvimento, enfim, todos os elementos estão ligados entre si e devem ser vistos em seu conjunto, fugindo-se da postura cartesiana que prevaleceu nos últimos quinhentos anos.

Não desdenhamos da globalização em si, mas, pelo nosso prisma, ela se confunde com a valorização das diversas culturas, raças e regiões do planeta e não em uma postura hegemônica de algumas regiões e etnias sobre outras, esmagando as manifestações locais.

As peculiaridades, valores e diferenças de cada região são a causa de sua verdadeira riqueza, que transcende limites puramente geográficos, muitas vezes artificiais e impostos. Nenhum modelo ou plano deve prescindir da devida consideração de tais singularidades, e, acreditamos, estão fadados ao fracasso quando assim o fazem.

Não se justificam mais as práticas amadorísticas quando se fala em gestão ambiental e exploração racional dos recursos naturais. O descaso governamental e a ação predatória de grupos econômicos chegam a ser criminosos e não são admissíveis.

O Poder Judiciário, as organizações não-governamentais e a sociedade civil organizada têm um importante papel a desempenhar na propositura e cobrança de ações mais conscientes, consistentes, organizadas e racionais das diversas esferas de governo e da iniciativa privada.

Além do que propusemos, gostaríamos de indicar, nestas linhas finais, outras medidas que poderiam ser tomadas para revitalizar o Turismo, atrair pesquisadores capacitados e criar uma ilha de excelência na região e constituir-se em um diferencial da mesma:

·     Criação de um Jardim Botânico na cidade de Lençóis, que permita a preservação de espécies vegetais e o seu estudo, assim como a visitação pública em espaço de fácila cesso e com a devida infra-estrutura;;
·         Criação de um Museu de Arqueologia e História Natural em Central;
·   Criação de um Museu de Espeleologia em cidade a ser determinada, na região da Chapada Diamantina;
·     Criação de uma Universidade Central da Bahia, cujo campi se estenderia por toda aquela área. Além desta, sugerimos a criação da Universidade Federal do Sudoeste da Bahia e da Universidade Federal Metropolitana de Salvador.

     Ousar é preciso. Só um povo que ousa é capaz de caminhar na consecução dos seus objetivos e afirmação de sua identidade.

8.
Referências Bibliográficas

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ACREDITAMOS QUE A REGIÃO CENTRAL DA BAHIA DEVERIA ABRIGAR, FUTURAMENTE, A CAPITAL DO ESTADO, DENTRO DE UM PROCESSO MAIOR DE INTERIORIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO E MELHORIA DA INFRAESTRUTURA. 

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