Fazemos abaixo um apanhado geral das reservas de urânio brasileiras, a evolução das pesquisas nucleares no País, situação atual e perspectivas e defendemos a instalação de Usinas Nucleares na Bahia. Recorremos a diversas fontes.
O Urânio no Brasil
Em 1952, o Conselho Nacional de Pesquisas – CNPq iniciou a primeira prospecção sistemática de minerais radioativos no Brasil. Em 1956 o processo de prospecção passou a ser feito através da recém-criada Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, e, a partir de 1970, com uma aplicação mais substancial de recursos financeiros e com a participação da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM na execução, até 1974 as reservas do país somavam um total de 11.040t de U3O8. Após a criação da NUCLEBRÁS em dezembro de 1974, os estudos das reservas brasileiras passaram a ser feitos direcionados às metas do Programa Nuclear Brasileiro de busca por autonomia energética, que, por ocasião da chamada primeira “crise do petróleo” de 1973, destinou grandes investimentos à prospecção, pesquisa, desenvolvimento de métodos e técnicas de trabalho e lavra de jazidas de urânio no país. Um grande número de ambientes geológicos favoráveis ao estudo detalhado foram delimitados, resultando na revelação de novas jazidas, entre elas as províncias de Itataia (CE) em 1976 e Lagoa Real (BA) em 1977, levando o Brasil a ocupar no “ranking” mundial de reservas de urânio o lugar em que se encontra atualmente. De acordo com o Balanço Energético Nacional – MME de 1982, as reservas de urânio brasileiras somavam cerca 301.490t de U3O8.
Em 1988 a NUCLEBRÁS foi transformada em Industrias Nucleares Brasileiras – INB, permanecendo até os dias atuais, englobando as funções do ciclo do combustível nuclear desde a mineração, passando pelo enriquecimento até a fabricação do combustível nuclear.
O Brasil possuí, hoje, a 6ª maior reserva mundial de urânio com 309.370 toneladas de U3O8, o que permite o suprimento de combustível para suas usinas nucleares a longo prazo, além do excedente poder ser utilizado para a exportação.
As principais reservas de urânio brasileiras estão distribuídas em sete jazidas: Itataia (CE), Espinharas (PB), Amorinópolis (GO), Lagoa Real (BA), Quadrilátero Ferrífero (MG), Poços de Caldas (MG), Figueira (PR). A jazida de Itataia, localizada na parte central do Estado do Ceará, embora seja a maior reserva de urânio do país (142,5 mil toneladas), a mineração está condicionada à produção de ácido fosfórico, ou seja, depende da exploração do fosfato que se encontra associado ao urânio.
Atualmente a produção brasileira está centrada na unidade da INB (Industrias Nucleares do Brasil) na província uranífera de Lagoa Real no estado da Bahia. Um outro centro de produção possível de entrar em operação é o de Itataia no Ceará, onde o urânio seria recuperado como um co-produto junto com o fosfato da apatita e da colofanita.
O Processo de beneficiamento do Urânio e a produção de combustível nuclear
O primeiro complexo mínero-industrial para a extração e beneficiamento do urânio no Brasil foi instalado pela NUCLEBRÁS no município de Caldas (MG), em 1982. Devido a complexa constituição do minério encontrado nessa região, fez-se necessário o desenvolvimento de um processo específico de extração do urânio e elementos associados. Começou também a ser utilizado o processo de tratamento químico do urânio para transformação em “yellowcake”, ou seja, teve início o desenvolvimento do ciclo do combustível nuclear. Atualmente, como a viabilidade econômica de extração do urânio dessa região está esgotada, as instalações de Poços de Caldas estão sendo utilizadas para o tratamento químico da Monazita e de minerais contendo o urânio como subproduto.
A extração do concentrado de urânio – U3O8 (yellowcake) é feita hoje na unidade de beneficiamento das Industrias Nucleares Brasileiras – INB, localizada próximo aos municípios de Caetité e Lagoa Real, no sudoeste do estado da Bahia. A capacidade de produção é de 400 toneladas/ano de U3O8, e as reservas dessa região estão estimadas em 100 mil toneladas de urânio sem outros minerais associados, quantidade suficiente para suprir a demanda das usinas nucleares de Angra I e II por mais de 100 anos. Em 2001, foram enviados para o exterior, oriundos de Caetité, para serviços de conversão e enriquecimento, 86t de DUA, equivalentes a 73t de U3O8 (INDUSTRIAS NUCLEARES DO BRASIL, 2002).
Para realizar o processo de enriquecimento do U3O8, esse material é transformado em um gás com elevado valor energético, aumentando a concentração de U-235. Entretanto, essa é a única etapa do ciclo do combustível nuclear que não é realizado no Brasil.
As etapas seguintes de produção do combustível nuclear são realizadas na unidade da INB localizada em Resende no estado do Rio de Janeiro, a FCN – Fábrica de Combustível Nuclear. O processo de fabricação inicia-se reconvertendo o gás em pó de dióxido de urânio – UO2. Segundo dados da INB, no ano de 2001 foi alcançada uma produção de 58,3 t de UO2 . O pó de dióxido de urânio é prensado em pastilhas para a produção do elemento combustível (conjuntos de varetas recheadas com as pastilhas de urânio) para os reatores das usinas de Angra. Em 2001 foram produzidos 16 elementos combustíveis para a 1ª recarga de Angra 2, bem como 40 elementos combustíveis para a 10ª recarga de Angra 1. (INB, 2002). A INB pretende, a partir de outubro de 2004, incorporar o processo de enriquecimento de urânio em ultracentrífugas, um processo diferente do método de difusão de gás que é utilizado atualmente. As ultracentrífugas são máquinas que giram à velocidade de 70 mil rpm, e foram desenvolvidas no Brasil à partir de um projeto adquirido juntamente com o acordo Nuclear para compra das Usinas de Angra 2 e 3, feito com a República Federal da Alemanha em 1975.
Para o funcionamento eficiente dos reatores nucleares, usados na geração de energia elétrica ou como força propulsora, o combustível deve apresentar o urânio-235 na proporção entre 2% e 3%, enquanto que nas bombas atômicas requer-se 90%. Como o minério contém apenas 0,7%, o urânio deve passar por um processamento de elevação do teor desse isótopo, conhecido como enriquecimento de urânio. O primeiro método utilizado em escala industrial foi o da difusão gasosa, que consiste na passagem do gás hexafluoreto de urânio por paredes porosas, atingindo-se a cada passagem maior concentração das moléculas mais leves de UF6, formadas por átomos do isótopo desejado.
Um outro método consiste na ultracentrifugação do gás, de forma a poder coletar-se as moléculas mais leves fora da borda da centrífuga. Esse método ainda se encontrava em fase experimental em 1975 quando o presidente Geisel assinou o Acordo Brasil-Alemanha, no qual constava, além da aquisição das centrais nucleares de Angra 2 e 3, a transferência dessa segunda tecnologia de enriquecimento desenvolvida até aquela época pela Alemanha.
O Programa Nuclear e os atuais níveis de demanda energética do Brasil
O “Livro Branco” do Programa Nuclear Brasileiro foi elaborado em 1977 com o objetivo de promover a construção de Reatores Nucleares para a geração de energia elétrica no Brasil a médio e longo prazo. Este programa fazia parte da estratégia do Governo Federal de criar alternativas para diminuir a dependência das importações de petróleo – produto que já foi a base da geração de energia no Brasil e que, a partir de 1973, iniciou um período de crise internacional, gerando grandes aumentos. Baseado nas projeções do “Plano 90”, formulado em 1974 pela Eletrobrás, o “Livro Branco” considerou que como a expectativa de crescimento da demanda de eletricidade no Brasil seria em uma média de 8,7% a 11,4% e que o consumo dobraria a cada sete anos, haveria, então, a necessidade de uma potência energética instalada na ordem de 180 mil a 200 mil MW até o final do século. Tendo em vista que o potencial hídrico nacional, estimado em 150 mil MW à época, estaria esgotado até o ano 2000, o Governo Federal considerou a Energia Nuclear como a única alternativa realmente viável, alegando que naquela época, as usinas nucleares já haviam alcançado um alto grau de confiabilidade técnica e competitividade de seus custos de produção frente ao quadro da economia de petróleo (BRASIL, 1977).
A expectativa de crescimento da demanda nacional de energia elaborada pelo Governo Federal considerava os níveis de crescimento econômico do período do “Brasil Potência”, época em que o crescimento econômico brasileiro apresentou altas taxas de crescimento anual, principalmente devido as políticas governamentais de industrialização do país feito através de financiamento externo. Entretanto, atualmente compreende-se que as taxas de crescimento econômico no Brasil após o ano de 1979 foram bem menores se comparadas com a década de 1970, devido a períodos de crises e recessão econômicas que ocorreram no contexto internacional nas décadas de 1980 e 1990. Foi constatado também que o potencial hídrico brasileiro ultrapassa a estimativa de 150 mil MW, apresentada pelo Governo naquela época, e a de 213 mil MW, apresentado pela Eletrobrás em 1982.
O crescimento econômico ocorrido no país nas ultimas décadas, gerou um aumento considerável da demanda energética brasileira, porém, muito abaixo das expectativas anunciadas pelo governo naquela época. Na análise do quadro de produção nacional de energia elétrica a partir da década de 70, destaca-se o crescimento das hidroelétricas como principal fonte geradora, com uma capacidade total instalada de 65.311 MW em 2002 (MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA, 2003).
A produção de energia elétrica de origem nuclear não acompanhou esse aumento da demanda energética nacional das ultimas décadas. A energia gerada foi de 657MW no período de 1985 a 1999, e ampliada para 2.007 MW, devido a construção da usina de Angra 2, no período de 2000 a 2002 (MME, 2003).
Atualmente, a geração hidroelétrica representa uma parcela superior a 70% do total da oferta de eletricidade gerada no Brasil, enquanto que as Usinas Nucleares de Angra 1 e 2 representam apenas 3,6%, uma parcela pouco significativa quando considerado a demanda no contexto nacional. Entretanto, as usinas de Angra 2 e Angra 1 ocupam, respectivamente o primeiro e o segundo lugar entre as geradoras térmicas brasileiras. As duas usinas representam cerca de 45% da energia consumida no estado do Rio de Janeiro. A construção de uma terceira usina na região, com potência de 1.350MW, elevaria esse percentual para aproximadamente 60%. A produção energética da usina de Angra 2, por exemplo, teria sido capaz de cobrir o consumo de energia elétrica do estado do Pará ou toda a eletricidade consumida nos estado de Goiás e Espirito Santo juntos, durante todo o ano de 2001.
No momento, a produção brasileira é destinada ao mercado interno, i.e., para atender a demanda dos reatores das usinas de Angra I e II e futuramente de Angra III, caso o governo brasileiro decida por sua construção. Todavia, o cenário da energia nuclear está aberto e pode representar oportunidades reais para o país no cenário interno assim como no externo, especialmente se for levado em consideração que o Brasil detém a sexta maior reserva mundial de urânio, isto sem que todo o território brasileiro tenha sido prospectado.
Neste escopo os aspectos relacionados com a constante atualização de regulamentos e normas técnicas, qualificação e treinamento continuado de pessoal, disponibilização de infra-estrutura adequada e desenvolvimento de pesquisas direcionadas que permitam, por exemplo, adequar projeções feitas para cenários desenvolvidos para paises com condições ambientais diferentes da nossa são aspectos essenciais. É absolutamente necessário que órgãos reguladores e operadores não sejam entidades antagônicas entre si e sim co-responsáveis por um projeto de desenvolvimento nacional visando o bem estar da população brasileira.
Tomando-se por base o que foi verificado nos centros de produção de urânio ao longo das últimas décadas, a adoção de requisitos regulatórios cada vez mais restritivos levou a um aumento de eficiência do setor produtivo, redução de gastos na mitigação de impactos ambientais e formulação de abordagens criativas no relacionamento com comunidades potencialmente afetadas pelos projetos de produção.
Por fim, deve ser entendido que o relacionamento com a opinião pública deve ser pautado por práticas transparentes, tanto do órgão operador quanto do órgão regulador englobando aí ações pró-ativas de esclarecimento, além de práticas concretas no campo da responsabilidade social. Na medida que o Brasil consiga atingir um aprimoramento sustentável nessas práticas, o futuro do programa nuclear brasileiro, num cenário desafiador e complexo, poderá ter condições reais de desenvolvimento e expansão.
Conclusão
Através das análises feitas sobre as reservas minerais e os níveis atuais de produção e consumo de energia no Brasil, pôde ser feita uma reflexão sobre o contexto no qual a energia nuclear está inserida.
A introdução das Usinas Nucleares no Brasil foi no início da década de 70, período do chamado “milagre brasileiro”, no qual o Governo Federal fazia previsões otimistas quanto ao crescimento e desenvolvimento econômico no país (chegando a 10% ao ano) para as próximas décadas, e afirmava também que o potencial hidroelétrico estaria esgotado até o ano 2000. Constatou-se entretanto que, as previsões referentes ao crescimento econômico não se concretizaram sobretudo devido ao período de crise mundial que se instalou a partir da década de 80. O moderado crescimento econômico do país acompanhou a produção energética que esteve baseada principalmente na geração hidroelétrica como principal fonte. No ano de 2001 ocorreu o chamado “apagão”, que serviu de alerta quanto a produção e o potencial hidroelétrico brasileiro, não sendo permitido ao país a dependência apenas dessa fonte de energia.
A construção da usina nuclear de Angra 3 não representa solução definitiva para um problema de demanda energética futura, levando em consideração que, em países como o Brasil, o crescimento econômico gera um aumento do consumo de energia em iguais proporções. A usina de Angra 3 não representaria parcela considerável dentro do contexto nacional. Contudo, em relação ao Estado do Rio de Janeiro, Angra 3 seria um caso a parte, pois, este estado depende muito da geração hidroelétrica proveniente de outras regiões. Dessa forma, Angra 3 constituí-se como um empreendimento atrativo, pois, poderia representar uma solução para minimizar a dependência energética do estado em relação a outras regiões. Além disso, a alternativa das usinas térmicas à gás, adotada pelo governo para diversificação da produção energética nacional, produzem grande poluição a atmosfera e não representam independência em relação ao fornecimento de combustível externo.
O alto custo de instalação de Angra 3 é, também, um fator que dificulta o prosseguimento do programa nuclear. Este indicativo elevaria muito o preço da energia gerada pela usina. Além dos recursos financeiros necessários na construção, que provavelmente seriam fornecidos através de empréstimos externos, é essencial haver uma reorganização quanto a operação e manutenção para uma maior eficiência energética e segurança das plantas industriais em funcionamento atualmente.
Os resíduos radioativos gerados por essas usinas, apesar de estarem totalmente identificados e monitorados, representam um certo risco por não terem um destino definitivo.
Entretanto, o desenvolvimento da tecnologia de produção de urânio enriquecido, contendo todas as fases do ciclo, representaria a possibilidade de gerar internamente todo o combustível necessário para operar as usinas nucleares, utilizando o potencial das reservas de minerais de urânio brasileiras inclusive para a exportação.
Apesar de todas as oposições, questionamentos e controvérsias que a Energia Nuclear enfrenta no contexto nacional, essa permanece sendo uma alternativa que não foi descartada das metas do Governo Federal. Além do mais, o Programa Nuclear Brasileiro sobrevive graças a um paradoxo: gastou demais para ser desativado.
Autoria: Andressa Fiorio
O urânio é um mineral muito importante, encontrado em rochas sedimentares na crosta terrestre.
O urânio é um mineral muito importante, encontrado em rochas sedimentares na crosta terrestre. É muito utilizado em fotografia e nas indústrias de cabedal e de madeira. No entanto, a aplicação mais importante do urânio é a energética (fonte de energia para usinas nucleares).
O Brasil é dono da quinta maior reserva de urânio do mundo, de aproximadametne 300 mil toneladas. Essas reservas distribuem-se entre as jazidas de Itataia, Ceará (142 mil toneladas), onde o mineral está associado ao fosfato e a rochas ornamentais economicamente exploráveis; Lagoa Rela, na Bahia (93.200 toneladas); e outras jazidas menores, como Gandarela, Minas Gerais, onde há ouro associado ao Urânio; Rio Cristalino, no Pará; e Figueira, Paraná. Isto confere ao País segurança estratégica, no que diz respeito ao suprimento de energia por via nuclear.
No Complexo Mínero-Industrial do Planalto de Poços de Caldas (CIPC), uma indústria nuclear extrai urânio como o separa e concentra, produzindo a substância conhecida como “yellow cake” (U3 O8 ), dando início, assim ao ciclo do combustível nuclear. O presente é um depósito com mais de 100 mil toneladas de urânio, um mineral pouco encontrado no Mundo e, por isso mesmo muito valioso. A jazida da Cachoeira, vai render, durante 15 anos, 300 toneladas anuais de urânio concentrado.
Urânio é o combustível que alimenta as usinas nucleares de Angra I (já em operação) e Angra II. Graças a eles, juntas, as duas usinas produzirão energia elétrica que iluminará as casas e moverá as indústrias de grande parte do país.
A exposição às radiações pode ser quantificada através da unidade sievert (Sv) , que equivale à dose absorvida pelo organismo. A dose máxima permitida para o trabalhador é 50 mSv/ano.
Durante todo o processo há um controle muito importante, tanto de monitoração do pessoal quanto do meio ambiente.
Com relação ao pessoal, cada trabalhador recebe um crachá com dosímetro, que mede a dose de radiação que está recebendo. No caso do meio ambiente, é feito um acompanhamento constante e rigoroso de praticamente tudo: ar, solo, água de rios, da chuva ou subterrânea, dos animais, do capim, das árvores. A área de monitoração, normalmente, se estende por um círculo de 30 quilômetros a partir do centro da fábrica.
A empresa responsável pela mineração - minera e beneficia o urânio, e coloca-o em forma de pastilhas de um centímetro de diâmetro, dentro das varetas metálicas de quatro metros de comprimento. Essas varetas, montadas em feixe dentro de uma estrutura, são os elementos combustíveis que alimentam a usina.
Para gerar o calor que a usina transforma em energia elétrica, o urânio é primeiramente transformado em gás, na conversão; depois passa por máquinas que o enriquecem, ou seja, aumentam sua capacidade de gerar energia; na etapa seguinte, é transformado em pó, a reconversão; que mais tarde vira em pastilhas. As pastilhas são colocadas nas varetas que vão formar o elemento combustível. O reator de uma usina como Angra I leva 121 elementos combustíveis. Em cada um deles, estão alinhadas 235 varetas. Ao todo, no reator, são colocadas 11 milhões de pastilhas.
O minério de urânio, atende ainda a diversos setores industriais através do fornecimento de matéria-prima (ilmenita, zirconita e rutilo) para a indústria siderúrgica, automobilística, de fibras óticas e de cerâmicas especiais.
Segundo previsões , por volta do ano 2050, o mundo terá dez bilhões de habitantes, que precisarão cada vez mais de energia. Como as outras fontes de energia (usinas hidrelétricas e termelétricas que queimam petróleo ou carvão) são limitadas, cada vez mais se usará a energia nuclear.
Atualmente a energia nuclear participa com 17% do total de 12 trilhões de quilowatts-hora da energia elétrica mundialmente produzida.
Reservas de Urânio no Mundo
Austrália 24,6%
Casaquistão 14,4%
Outros 14,3%
Canadá 13,9%
África do Sul 9,2%
Namíbia 7,1%
Brasil 5,9%
Rússia 4,1%
EUA 3,6%
Nigéria 2,3%
Observação: A soma das porcentagens das reservas (100 %) de urânio no mundo é equivalente a 3.638.000 toneladas Fonte da tabela: BID
USINAS NUCLEARES NA BAHIA
02/04/2011
Chorrochó e Rodelas na disputa por Usina Nuclear
João Pedro Pitombo | Jorna A TARDE - Salvador / Bahia
O futuro do programa nuclear brasileiro, que prevê a construção de pelo menos quatro novas usinas nucleares no País até 2030, depende apenas de uma definição da presidente Dilma Rousseff. A Eletronuclear – estatal responsável pela operação das usinas nucleares – já concluiu as duas primeiras das quatro etapas dos estudos para definição do local das usinas e depende de uma decisão da presidência para dar prosseguimento às pesquisas. Para abrigar a Central Nuclear no Nordeste, que inicialmente prevê a instalação de duas usinas foram definidas duas macro-áreas às margens do rio São Francisco. Na Bahia, o cinturão vai desde Juazeiro até o município de Glória. Contudo, apesar de não haver uma definição oficial, os municípios de Rodelas e Chorrochó são apontados como os favoritos na Bahia para abrigar o projeto nuclear.
Os sítios escolhidos favorecem uma possível divisão da central nuclear entre Bahia e Pernambuco. Em Chorrochó, o local escolhido fica no distrito de Barra de Tarrachil, região às margens do Rio São Francisco. Na outra ponta do rio fica o município pernambucano de Belém do São Francisco. No caso de Rodelas, a área definida também fica nas proximidades do rio, numa região em que na outra margem está a cidade de Itacuruba, Pernambuco.
De acordo com o coordenador da Eletronuclear no Nordeste, Carlos Henrique Mariz, o ideal é que se faça uma central com todas as usinas de um só lado do rio. No entanto, ele garante que não está descartada uma gestão compartilhada entre dois estados. Claro que existe uma preferência em fazer a central em uma só margem, por questões de economicidade. Mas podemos fazer uma usina em um lado e a outra no outro” , explica.
Com investimento previsto de R$ 10 bilhões por cada usina, o Complexo Nuclear do Nordeste deverá ficar num espaço capaz de abrigar até seis usinas nucleares. O objetivo é garantir um local com possibilidade de expansão futura do número de reatores.
Bahia continua na disputa por usina nuclear
Empreendimento orçado em R$ 10 bilhões, a quarta usina nuclear brasileira ainda pode vir para a Bahia. No começo do mês, blogs e alguns jornais divulgaram a especulação de que o projeto seria implantado na localidade de Belém do São Francisco (PE), da cidade de Itacuruba, que fica a 470 quilômetros de Recife.
Ontem, a Eletronuclear informou a esta Tribuna que não há nenhuma decisão oficial. “Existem outras áreas em condições semelhantes no Nordeste e em outras regiões brasileiras”, afirmou o supervisor de Novas Usinas da Eletronuclear, Drausio Lima Atlla.
Segundo especulações que surgiram no começo do mês, a sede do empreendimento já teria sido anunciada ao governador pernambucano, Eduardo Campos. Porém, a Eletronuclear informou que sequer tem data prevista para uma decisão final.
O governo baiano se ofereceu para abrigar uma das duas usinas programadas para o Nordeste. Como parte interessada, acompanha as movimentações no plano federal. A Secretaria de Infraestrutura, comandada pelo vice-governador e titular da pasta, Otto Alencar, afirmou que não recebeu qualquer informe sobre a definição da usina.
A direção da Eletronuclear nega que a decisão final está em sua alçada. Os estudos, segundo Drausio Lima, são passados aos tomadores de decisão do governo federal. Os preparativos para que o martelo seja batido ocorrerão até o final do próximo ano. A(s) usina(s) entrariam em operação no começo de 2020.
Segundo Drausio Lima, “a decisão de instalar novas usinas nucleares no Brasil não foi tomada, apesar dos estudos de localização estar em andamento. Trata-se de uma alternativa disponível de geração de eletricidade, assim como outras, e como tal, está sendo estudada”.
Em março, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou o programa nuclear brasileiro e as duas unidades no NE estão garantidas. O supervisor da Eletronuclear sustenta que os estudos de localização - que contam com a participação da Coppe/RJ, identificou micro-regiões que se mostraram adequadas, em caráter inicial, a receberem usinas nucleares. Estes sítios se localizam no Nordeste, Sudeste e Sul brasileiros.
“Estudos adicionais, mais precisos e demandantes, serão efetuados, até que o sítio mais adequado seja selecionado a partir de seus atributos”, afirmou Drausio Lima.
PNE 2030 - O Plano Nacional de Energia (PNE 2030), elaborado pela Empresa de Pesquisa de Energética, prevê duas plantas nucleares no nordeste. Como justificativa do investimento, o PNE aponta uma projeção de crescimento médio do consumo de energia no Brasil de 3,7% ao ano entre 2005 2030.
Os novos empreendimentos garantiriam uma evolução da participação do urânio e derivados na matriz energética brasileira de 1% a 3%.
Tribuna da Bahia
Brasil quer autossuficiência na produção de urânio até 2014
MCT - 28/10/2009
A mina de Caetité, no interior da Bahia, quebrou o recorde de extração de urânio em setembro. Foram 51 toneladas produzidas, cinco a mais que a antiga marca atingida em maio último.[Imagem: MCT]
Produção brasileira de urânio
A mina de Caetité, no interior da Bahia, quebrou o recorde de extração de urânio em setembro. Foram 51 toneladas produzidas, cinco a mais que a antiga marca atingida em maio último. A expectativa é de que até dezembro a produção anual também seja superada. Faltam cerca de 46 toneladas para chegar à marca de 400 toneladas extraídas em 2008.
Segundo o presidente do Conselho Nacional de Energia Nuclear (Cnen/MCT), Odair Gonçalves, o Programa Nuclear Brasileiro (PNB) avança em um ótimo ritmo. "Estamos investindo muito na exploração do urânio e também em tecnologias para que o Brasil se torne autossuficiente em produção e enriquecimento até 2014".
Ciclo do urânio dominado pelo Brasil
Hoje, duas etapas do ciclo do combustível nuclear ainda não são feitas em território nacional. O minério extraído é enviado ao Canadá, onde é convertido para o estado gasoso, depois segue para a Europa para ser enriquecido e retornar ao Brasil.
Apesar de ser desenvolvido por mão-de-obra estrangeira, o Brasil detém a tecnologia para o ciclo do combustível nuclear, mas faltam equipamentos para atender a demanda industrial. "É um processo que sabemos e podemos executar, mas ainda não é rentável ao País", explica Gonçalves.
A Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), em Resende (RJ), conta com dois conjuntos de centrífugas, conhecidos como cascatas, para enriquecer o urânio. A terceira cascata deve entrar em funcionamento em final de janeiro de 2010. Todas as cascatas de enriquecimento foram construídas pela Marinha do Brasil.
Depois de passar por um processo de purificação, o urânio é separado do minério e concentrado sob a forma de um sal amarelo, conhecido como yellowcake. [Imagem: MCT]
Processo de enriquecimento do urânio
Os minérios que contêm o urânio são extraídos em Caetité, sudoeste da Bahia. Depois de passar por um processo de purificação, o urânio é separado do minério e concentrado sob a forma de um sal amarelo, conhecido como yellowcake.
Depois desta primeira fase, duas etapas são realizadas fora do Brasil. A primeira é no Canadá, o yellowcake é dissolvido e mais uma vez purificado, obtendo-se o urânio nuclear puro, que será convertido para o estado gasoso (hexafluoreto de urânio). A segunda fase é feita em países da Europa, quando o urânio em gás é enriquecido e enviado em contêineres à FCN.
Já em solo nacional, o urânio enriquecido é reconvertido para a forma sólida e depois transformado em pequenas pastilhas. Com pouco menos de um centímetro de comprimento e de diâmetro, as pastilhas são colocadas em um conjunto de 235 tubos metálicos (varetas), formando o elemento combustível.
Combustível nuclear
Para se ter uma ideia da capacidade desse combustível, duas pastilhas geram energia para manter funcionando por um mês uma residência média onde moram quatro pessoas. O conjunto de varetas gera energia para 42 mil residências do mesmo porte.
As varetas são enviadas às usinas Angra 1 e 2, em Angra dos Reis (RJ), que funcionam como centrais termoelétricas. O elemento combustível é aquecido, o calor liberado pelas pastilhas ferve a água de uma caldeira transformando-a em vapor que movimenta uma turbina. O movimento das hélices dá partida a um gerador que produz a eletricidade.
Reservas de urânio do Brasil
Com pouco menos de um centímetro de comprimento e de diâmetro, as pastilhas são colocadas em um conjunto de 235 tubos metálicos (varetas), formando o elemento combustível. [Imagem: MCT]
A extração anual de urânio no Brasil ainda não alcança escala industrial. O volume produzido na mina de Caetité é suficiente para atender a demanda de Angra 1 e 2. O Programa Nuclear Brasileiro propõe que até 2030 de quatro a oito usinas nucleares, além de Angra 1, 2, e 3, sejam construídas.
Segundo o gerente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB) no nordeste, Hilton Mantovanni, a mina de Caetité, a única que extrai urânio na América Latina, tem capacidade para ser explorada por pelo menos 30 anos. Para atender a demanda das novas usinas do PNB, Caetité poderá extrair 1,2 mil toneladas de urânio a partir de 2017. "A mina tem um potencial muito grande. A cada dia encontramos novas anomalias que podem ser exploradas", diz.
Mesmo com a garantia de mais três décadas de produção, outra mina está em preparação em Santa Quitéria, no Ceará. Como se trata de uma jazida com predominância de fosfato, mineral que não faz parte do monopólio da União, a INB fez uma parceria com a empresa Galvani. Ela será responsável por explorar o local. A empresa fica com o fosfato e repassa o urânio a INB. A expectativa é a de que a extração comece em janeiro de 2012.
Nos primeiros anos, a produção anual da nova jazida vai girar em torno de 1,1 toneladas. Em 2017, esse número deve subir para 1,6 mil toneladas por ano. Com isso, a produção nacional de urânio pode aumentar 600% em oito anos.
Novas usinas nucleares brasileiras
As novas usinas nucleares ainda não têm local definido para serem construídas, exceto Angra 3, que ficará no Rio de Janeiro. O presidente do Cnen adianta que pelo menos uma usina será construída no Nordeste. "É preciso ter uma alternativa energética na região. Quando houve o apagão elétrico o Sudeste foi muito beneficiado. Angra 1 e 2 foram acionadas e ajudaram a suprir a demanda.", explica Gonçalves.
Juntas, Angra 1 e 2 geram cerca de dois mil megawatts de energia elétrica, quase metade do consumo do estado de Rio de Janeiro. "É muito melhor para o meio ambiente e mais barato usar a energia nuclear do que gás ou carvão. Em 2008, por exemplo, a segunda energia mais fornecida no Brasil foi a nuclear", lembrou.
O presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Alfredo Trajan Filho, estima que Angra 3 entre em operação em 2015. "A partir de 2019 a primeira usina do Programa Nuclear Brasileiro deve ser ativada, em 2022 a segunda, três anos depois a terceira usina e em 2027 a quarta usina. Se houver necessidade este período pode diminuir", analisa Trajan. Segundo ele, o Brasil tem capacidade para atender toda a demanda de urânio do PNB, inclusive com sobra. O excedente pode ser exportado, mas a decisão política, a princípio, é não vender as reservas.
Armazenamento do lixo nuclear
Com o aumento da produção e enriquecimento de urânio pelo PNB, o volume de rejeito nuclear também deve aumentar. O Brasil projeta um grande depósito para armazenar esse lixo nuclear. "Estima-se que o repositório definitivo construído pela Cnen armazene 60 mil m³ de rejeitos até 2060, uma quantidade muito pequena para um prazo muito grande", diz o diretor do Centro Regional de Ciências Nucleares (CRCN/MCT), em Recife (PE), Ricardo Lima.
Varetas com o combustível nuclear, prontas para serem mergulhadas no reator. [Imagem: MCT]
O depósito definitivo está na fase de definição de conceitos e deve começar a receber os materiais nucleares até 2016. O local onde será construído ainda não foi definido. Segundo Lima, a escolha será técnica. "Muitos municípios já se ofereceram para receber o depósito, isso porque serão pago royalties à cidade que receber a instalação. Mas, a escolha será técnica. Temos que avaliar as condições de cada município", explica.
Enquanto o depósito não entra em operação, o lixo nuclear produzido por Angra 1 e 2 é estocado em depósitos da Central Nuclear de Angra dos Reis. "Todo rejeito nuclear produzido no Brasil tem "DNA, endereço e telefone". Sabemos onde estão estocados e quanto tempo deve permanecer lá. É tudo muito seguro", garante Lima.
Tipos de lixo nuclear
Existem três tipos de lixo nuclear. O lixo de baixa atividade é gerado na mineração e na fabricação do combustível - inclui papéis, panos, ferramentas, roupas, filtros e outros objetos que contêm pequenas quantidades de radioatividade.
O lixo de média atividade inclui resinas, revestimento de metal do reator e outros materiais que contêm irradiação que levam um período um pouco maior para se descontaminar. Esses dois tipos representam 95% do rejeito nuclear que depois de um determinado período pode ser reaproveitado.
O lixo nuclear de alta atividade produzido no Brasil é o elemento combustível usado. Ele contém cerca de 1/3 do urânio que sofreu a fissão nas usinas. O rejeito nuclear de alta atividade também pode ser reaproveitado, mas ainda não é rentável.
"Para reaproveitar este material é preciso ter demanda para isso. Hoje, produzimos este tipo de lixo nuclear em baixa escala por isso nem pensamos em reprocessar. Quando as outras usinas estiverem prontas vamos pensar nisso. Mas a decisão será do governo Federal", diz o presidente da INB, Trajan Filho.
Proteção ambiental
Em Caetité, diversos programas ambientais e sociais estão em andamento para diminuir os impactos da extração. Há uma série de ações como a manutenção de um horto florestal com viveiro de mudas nativas e medicinais e reflorestamento.
Uma área de 800 hectares está em fase de recomposição - a previsão é a de que sejam plantadas cinco milhões de mudas nativas da região. Além disso, os alunos de escolas da região participam de programas de educação ambiental, apoio a reciclagem e aproveitamento de materiais alternativos.
ENERGIA NUCLEAR & PROLIFERAÇÃO NUCLEAR
O Brasil, por intermédio do Ministério das Relações Exteriores, divulgou nota afirmando ser inaceitável a tentativa de compará-lo com países vinculados a atividades secretas ou não-declaradas na área nuclear (Folha de S. Paulo, São Paulo, 06.abr.2004, p. A1 e A4).
A nota respondeu à reportagem do jornal “The Washington Post” segundo a qual o Brasil vetou o acesso de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) à INB-Rezende (RJ).
O Brasil é signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), de 1968, mas não do seu Protocolo Adicional, de 1997, o qual prevê inspeções irrestritas e sem aviso. 82 países já assinaram o Protocolo Adicional de Salvaguardas.
A política de não-proliferação dos EUA volta-se para impedir o Irã e a Coréia do Norte de adquirirem capacidade nuclear bélica, assim como para conter a política do Paquistão, já produtor da bomba, de disseminar a tecnologia crítica.
A INB-Rezende (RJ) é uma das unidades da empresa Indústrias Nucleares do Brasil (INB), criada em 1988, sucessora da NUCLEBRÁS e de suas controladas.
A INB responde pelo conjunto das atividades representativas do “ciclo do combustível nuclear” (exploração do urânio, desde a mineração e o beneficiamento primário, até a produção e montagem dos elementos combustíveis acionadores dos reatores de usinas nucleares). Atua, também, na área de tratamento físico dos minerais pesados com a prospecção e pesquisa, lavra, industrialização e comercialização das areias monazíticas e obtenção de terras-raras.
Na INB-Rezende, localiza-se a Fábrica de Combustível Nuclear (FCN). Essa fábrica realiza a produção de pó e de pastilhas de dióxido de urânio, a produção de componentes e a montagem do elemento combustível, além de todas as atividades do enriquecimento de urânio.
A FCN passará a fornecer urânio enriquecido para usinas nucleoelétricas, em escala industrial, e integrará o Brasil em seleto grupo, formado por onze países (EUA, China, Rússia, França e Inglaterra, assim como, sem produzir a bomba atômica, Alemanha, Holanda, Israel, Índia, Paquistão e Japão), capazes de produzir esse tipo de combustível (Isto É, São Paulo, n. 1801, 14.abr.2004, p. 66). O mercado de urânio enriquecido movimentou US$ 18 bilhões, em 2001, e está em franco crescimento, segundo o “Nuclear Fuel Cost Calculator (NFFCC)”, da Holanda.
O enriquecimento do urânio pela FCN efetua-se a partir de tecnologia própria, utilizadora de equipamentos de ultracentrifugação, desenvolvida ao longo dos últimos 27 anos. O método da ultracentrifugação é adotado pelo Brasil e mais sete países. Os EUA e a França utilizam o método da difusão gasosa (Veja, São Paulo, n. 1849, 14.abr.2004, p. 56).
O urânio é um elemento químico com três isótopos (variedades) naturais: U-238 (o Brasil detém a 5ª maior reserva do mundo), U-234 e U-235 (raro, com concentração original de 0,7%). O processo de enriquecimento aumenta a concentração do urânio para diversas finalidades: de 3% a 5% para geração de energia elétrica; 20% para combustível de submarino nuclear (20%); 95% para a fabricação de bomba atômica.
Depois de extraído, o urânio é purificado e concentrado na forma de um sal (“yellowcake”). Em seguida, o “yellowcake” é transformado em hexafluoreto de urânio (UF6), gasoso, e inicia-se o processo de enriquecimento. Por fim, o gás enriquecido de urânio é transformado em pó e, depois, compactado em pequenas pastilhas, acondicionadas em varetas metálicas (o combustível nuclear).
A geração de energia elétrica por combustível nuclear provém do calor liberado por uma reação de fissão nuclear, explica Joaquim Francisco de Carvalho, mestre em engenharia nuclear (Folha de S. Paulo, São Paulo, 24.abr.2004, p. A3). O calor é empregado para aquecer água e produzir vapor. O vapor aciona uma turbina, acoplada a um gerador de eletricidade, exatamente como numa central termoelétrica convencional, a carvão ou a óleo, ressalta Carvalho. O ponto de partida é o enriquecimento do urânio, do qual resulta o material capaz de permitir a manutenção de reações de fissão sustentadas em cadeia. A FCN está projetada para enriquecer urânio até 3,5%.
Em 06.ago.1945, os EUA lançaram sobre Hiroshima uma bomba de fissão de urânio 235, com poder explosivo de 13 quilotons. Três dias depois, lançaram outra sobre Nagasaki, de plutônio 239, com 19 quilotons. Em 1949, a Rússia testou a sua primeira bomba de fissão. Em 1951, os EUA explodiram sua primeira bomba de hidrogênio (fusão). Em 1952, os britânicos lançaram uma bomba de fissão, seguidos em 1960 pelos franceses e, depois, pelos chineses, indianos, paquistaneses, israelenses, lembra Carvalho.
O Brasil permitiu a vistoria dos inspetores da AIEA sobre toda as atividades da INB-Rezende. Só não permitiu visita à sala das centrífugas (resguardada por painéis), por proteção à tecnologia própria. Logo após o anúncio do início da produção em escala industrial pela INB-Rezende, a AIEA sugeriu a assinatura do Protocolo Adicional pelo Brasil. As inspeções da AIEA destinam-se precipuamente a conferir se a quantidade de urânio enriquecido produzida equivale ao volume do material bruto recebido pelas usinas de processamento.
A Constituição Federal só permite a utilização da energia nuclear para fins pacíficos e submete as atividades nessa área ao Congresso Nacional, lembra editorial da Folha de S. Paulo sob o título “Acordo Nuclear” (07.abr.2004, p. A2). O Brasil poderia subscrever o Protocolo Adicional como decisão soberana, embora exigindo avanços nos objetivos de desarmamento, opina o editorial. A existência de duas categorias de países (alguns com direito a armas atômicas e outros sem) só pode ser admitida como excepcional e transitória, jamais como definitiva. Se os EUA ou qualquer outra grande potência desejassem descobrir segredos industriais brasileiros no campo da centrifugação, poderiam lançar mão de outras ações clássicas de espionagem, sem necessidade de recorrer aos técnicos da AIEA, pondera o editorial.
Não se encontram razões pertinentes desaconselhando a adesão do Brasil ao Protocolo Adicional, opina editorial do O Estado de S. Paulo sob o título “O momento certo para evitar pressões externas” (11.abr.2004, p. A3). É do exclusivo interesse nacional reafirmar o nosso compromisso com o desenvolvimento pacífico da energia atômica, evitando, ao mesmo tempo, possíveis atritos com as grandes potências, empenhadas em impedir a proliferação nuclear, conclui o editorial.
Na unidade INB-Itataia, Ceará, localiza-se a maior reserva de urânio do Brasil. A jazida de urânio localiza-se em Santa Quitéria, Ceará, a 212 km de Fortaleza. A mina, de propriedade da INB, possui reservas de 142,5 mil toneladas de urânio associado ao fosfato. A viabilidade econômica da extração do urânio está condicionada à produção de ácido fosfórico (insumo utilizado na produção de fertilizantes). O projeto de exploração (Usina de Itataia) deverá começar a ser implantado em 2005, com o início da produção previsto para 2007. A produção deverá ser de 120 mil toneladas/ano de fósforo, sob a forma de ácido fosfórico, e 760 toneladas/ano de óxido de urânio, de acordo com estimativa da INB (Diário do Nordeste, Fortaleza, 26 jan. 2005, Negócios, p. 1).
A Usina Nuclear Angra 1, com 657 MW, e a Angra 2, com 1.350 MW, operadas pela Eletrobrás Termonuclear S.A. (ELETRONUCLEAR), criada em 01.ago.1997, são responsáveis por cerca de 4,1% do total de energia elétrica consumida no Brasil ou 47% da energia consumida no Estado do Rio de Janeiro. A Angra 3, em fase de obras, acrescentará mais 1.350 MW. O Brasil dispõe em abundância do combustível, e a ELETRONUCLEAR pretende responder ao desafio de consolidar a indústria de geração nucleoelétrica.
As alternativas disponíveis para a geração de grandes quantidades de eletricidade são: as usinas hidroelétricas; as termelétricas a combustíveis fósseis e as nucleares, afirma Joaquim Francisco de Carvalho, mestre em engenharia nuclear (Folha de S. Paulo, São Paulo, 12.jun.2004, p. A3).
Da eletricidade consumida no mundo, 17% origina-se de reatores nucleares (cerca de 400 reatores de grande porte estão em funcionamento); 17% das usinas hidroelétricas; o restante pela queima de carvão, gás e petróleo, observa José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP (Folha de S. Paulo, São Paulo, 12.jun.2004, p. A3). Mas apenas um terço da energia consumida no mundo é gerada na forma de eletricidade. Além da eletricidade, a sociedade moderna consome uma enorme quantidade de combustíveis (carga, gás, petróleo) na indústria, transporte e outros setores, explica Goldemberg.
A FCN deverá produzir 43 toneladas de urânio enriquecido (em pastilhas de 1 cm de altura por 1 cm de diâmetro), quantidade suficiente para suprir anualmente o abastecimento de Angra I e Angra II. A URENCO, formada por capital alemão, holandês e inglês, produz sozinha cerca de 1.500 toneladas de urânio enriquecido. Cada quilo de urânio produz energia térmica equivalente à gerada por 120 toneladas de carvão ou 700 toneladas de óleo combustível (Veja, São Paulo, n. 1876, 20 out. 2004, p. 126).
Na França, o modelo nuclear é responsável por 75% da energia elétrica gerada. Os EUA já possuem 104 usinas nucleares (id.).
Após a realização de vistoria, a AIEA liberou, em 24. nov. 2004, o funcionamento da INB-Rezende para a produção de urânio enriquecido. A AIEA teve acesso irrestrito às instalações da INB-Rezende, salvo em relação às centrífugas, tratadas como segredo tecnológico. A INB-Rezende começará a produzir antes do final de 2004 (Reuters, 24 nov. 2004).
A Alemanha anunciou o fim de 30 anos de parceria com o Brasil na implementação de programa nuclear. Na oportunidade, a Alemanha propôs ao Brasil concentrar-se na exploração de recursos energéticos renováveis (Reuters, 19 nov. 2004).
O mundo tem, em 15 dez. 2005, 443 usinas nucleares em operação, com capacidade total de geração de 369.728 megawatts (MW), e 24 usinas nucleares em construção. Os EUA têm 104 usinas em operação (99,21 MW, equivalente a 20% da eletricidade); em seguida, vêm a França, 59 (63,36 MW); Japão, 56 (47,84 MW); Fed. Russa, 31 (21,74 MW); Alemanha, 17 (20,38 MW, equivalente a 30% da eletricidade). A China tem 9 usinas em operação (6,60 MW) e 2 em construção (2,00 MW); a Índia, 15 usinas em operação (3,04 MW) e 8 em construção (3,60 MW). O urânio responde por 16% da geração mundial de energia elétrica (Valor, São Paulo, 20 jan. 2006, Eu & Fim de Semana, p. 17) (id.).
O Brasil, com grandes reservas de urânio, tem 2 usinas em operação, Angra-1 e Angra-2 (1,90 MW), além de 1 inconclusa (Angra-3) (id.).
A matriz energética brasileira está assim distribuída: petróleo, 43,2%; biomassa, 27,2%; hidreletricidade, 13,7%; gás natural, 7,5%; carvão, 6,6%; urânio, 1,8% (id.).
As reservas provadas de urânio do Brasil somam 309 mil toneladas (considerando-se a quantidade possível de ser obtida a custos inferiores a US$ 130 por quilo, segundo dados da ´World Nuclear Association´) (id.).
No ´ranking´ mundial, o Brasil ocupa o 6º lugar (o Cazaquistão vem em 1º lugar, com 957 mil toneladas de reservas) (id.).
A INB-Rezende (RJ), uma das unidades da empresa Indústrias Nucleares do Brasil (INB), produzirá, por meio da Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), o combustível nuclear (urânio enriquecido a 3% e 5%; a fabricação da bomba exigiria mais de 90%) (id.).
A FCN terá, até 2010, um conjunto de dez máquinas de ultracentrifugação, com capacidade para cobrir 60% das necessidades de Angra-1 e Angra-2. A primeira dessas máquinas será inaugurada nos próximos dias (id.).
O Brasil inaugurou em 05 maio 2006 o primeiro módulo da fábrica de enriquecimento de urânio da INB, em Rezende (RJ). O urânio brasileiro, extraído das minas de Caetité (BA), tem sido enriquecido na Europa, após ser transformado em gás no Canadá. A primeira etapa do projeto da INB, quando concluída, atenderá em 60% as necessidades de Angra I e Angra II (´Brasil inaugura enriquecedora de urânio´. Folha de S. Paulo, São Paulo, 06 maio 2006, p. A30). Ver .
Diante da crise deflagrada pela nacionalização das reservas de gás natural da Bolívia, o governo brasileiro já admite a viabilidade econômica da usina nuclear Angra 3, projeto interrompido desde 1992 por falta de recursos e de vontade política. Com possibilidade de ficar concluído em 2012, o projeto prevê a geração de 1,3 mil megawatts (MW) e permitirá uma redução em 30% da importação do gás boliviano (´Estatização faz Angra 3 sair do papel´. Gazeta Mercantil, São Paulo, 11 maio 2006, p. A-9).
A produção brasileira de urânio deverá passar, nos próximos 3 anos, de 400 para 1,2 mil toneladas com o início da exploração da mina de Santa Quitéria (CE). A atual produção de 400 toneladas, proveniente da mina de Catité (BA), garante o abastecimento das usinas nucleares Angra 1 e Angra 2. Atingida a produção de 1,2 mil toneladas, o Brasil se situará na 5ª colocação no ´ranking´ mundial dos produtores de urânio; o maior produtor é o Canadá (12 mil toneladas), seguido da Austrália (6 mil), Cazaquistão (4 mil) e Rússia (3 a 4 mil). As usinas hidrelétricas respondem por 70% da capacidade geradora do Brasil, enquanto a energia nuclear por apenas 2,2% (Gazeta Mercantil, São Paulo, 20 jun. 2006, p. C-2).
A mina de Santa Quitéria, no Ceará, é a maior reserva de urânio brasileira. Ainda em processo de licenciamento ambiental, poderá produzir 800 toneladas de urânio por ano. A sua viabilidade econômica depende da extração de um produto associado, o fosfato, usado na produção de fertilizantes. O projeto da INB prevê parceria, ainda em fase discussões, com empresa interessada no ácido fosfórico. No processo de produção, o parceiro entregaria os resíduos a partir dos quais a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) separaria o urânio, matéria-prima da produção do combustível utilizado nas usinas nucleares. O projeto de Santa Quitéria aumenta de importância diante da expectativa de construção da usina de Angra III, a exigir a elevação da produção do urânio. A INB já explora a mina de Caetité, na Bahia, com capacidade de produção de 400 toneladas de urânio por ano. A INB faz a mineração e o beneficiamento do minério e o exporta para o Canadá, onde o consórcio Urenco (formado por empresas de diferentes países) faz o enriquecimento e, em seguida, devolve o produto. A INB se encarrega das etapas seguintes até a obtenção do elemento combustível utilizado nas usinas nucleares de Angra dos Reis. A usina de enriquecimento de Resende (RJ) está em fase de testes e não produz em escala comercial. Um dos objetivos da INB é chegar a 2010 em condições de enriquecer em Resende (RJ) 60% das necessidades das usinas de Angra I e II (Valor, São Paulo, 06 jun. 2007, p. B1).
A retomada da construção da usina nuclear de Angra III marcará também o reinício das atividades da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) na exploração da reserva de urânio de Santa Quitéria (CE), segunda maior reserva de urânio do País. Para viabilizar a extração em Santa Quitéria, a INB está prospectando empresas privadas de mineração interessadas no negócio de fosfato, mediante o compromisso de repassar à INB o concentrado de urânio. A escolha da melhor proposta deverá ser concluída em 60 dias. Os primeiros resultados da exploração estão previstos para 2010. O crescimento da procura por urânio no mercado internacional inflacionou o preço do minério em até 430% nos últimos dois anos. O preço passou de US$ 30 a libra (equivalente a 450 gramas) para US$ 130. Santa Quitéria será a segunda jazida a ser explorada no Brasil. A primeira foi a de Caetité, Bahia. Outras reservas inexploradas estão em Pitinga (AM) e em Rio Cristalino (PA) (Folha de S. Paulo, São Paulo, 29 jun. 2007, p. B11).
O mundo voltou a interessar-se pela energia nuclear para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e a emissão de gases. O maior interesse pressionou os preços do minério. Existem 437 reatores em operação no mundo e eles respondem por 18% da energia elétrica global (Valor, São Paulo, 28 jun. 2007, p. A10).
O Brasil é detentor da 6ª maior reserva mundial de urânio, de aproximadamente 309 mil toneladas, com ocorrências significativas na Bahia (municípios de Lagoa Real e Caetité) e no Ceará (Itataia-Santa Quitéria, com reservas de 142,5 mil toneladas). A estatal ´Indústrias Nucleares do Brasil (INB)´ pretende quadruplicar sua produção de urânio até 2012 (de 400 para 1600 toneladas) e, sem abrir mão do monopólio da extração e produção desse mineral, procura parceiros privados para explorar jazidas da estatal com a existência de urânio associado a outros minerais, como é o caso da mina de Santa Quitéria, onde há predominância de fosfato e urânio como residual. A INB expediu carta-convite para sete grupos produtores de fosfato. As propostas serão abertas até 20 nov. 2007 (Valor, São Paulo, 14 set. 2007, p B7).
As empresas mineradoras (Vale do Rio Doce, Galvani S.A. e Bunge Fertilizantes) apresentaram proposta à estatal INB para a exploração do fosfato na reserva de Santa Quitéria (Diário do Nordeste, Fortaleza, 08 nov. 2007, Negócios, p. 5).
Proliferação nuclear
Nenhum Estado pode dar-se ao luxo de ficar sem a proteção contra as armas de destruição em massa. Sem essa proteção, as forças convencionais ficam totalmente à mercê dos Estados possuidores dessas armas.
O conceito de “contraproliferação” encabeça hoje a agenda de segurança dos EUA. Nenhum dos atuais detentores da tecnologia nuclear parece sequer cogitar da possibilidade de abrir mão de suas armas.
Ainda não foi determinado quando a proliferação constitui ameaça sistêmica, esclarecendo-se quando a aquisição de armas nucleares por um dado Estado vai fortalecer ou fragilizar o sistema de dissuasão nuclear em vigor. A dissuasão contribui para a não-proliferação em virtude da tranquilização decorrente da garantia oferecida pelos EUA.
Um Estado nuclearizado pode vir a reforçar a segurança do sistema internacional de Estados, caso sua capacidade não introduza multipolaridade no sistema, suas intenções não ponham em risco a soberania constitucional legítima de outros Estados (exceto se sofrer um ataque) e sua cultura política seja estável o bastante para garantir a persistência de suas intenções, avalia Philip Bobbitt, professor de Direito Constitucional na Universidade do Texas e de História da Estratégia Nuclear no King’s College, em Londres (“A guerra e a paz na história moderna”. Rio de Janeiro: Campus, 2003, 646 p.)
O Irã e a Coréia do Norte afirmam desenvolver a energia nuclear para fins pacíficos. Mas ninguém acredita nesses dois países. O problema de credibilidade também engloba o Brasil, diz José Goldemberg, físico nuclear (Folha de S. Paulo, São Paulo, 10.abr., p. A7). O TNP resguarda o direito dos países já possuidores de bomba atômica, mas impede a sua fabricação por novos países. O Itamaraty reclama de assimetria, e, sendo realista, há mesmo uma assimetria, uma questão geopolítica difícil de equacionar.
Existe um desacordo momentâneo entre o Brasil e a IAEA a respeito do funcionamento da fábrica de enriquecimento de urânio em Resende. O Brasil quer proteger sua propriedade intelectual. Os EUA não têm nenhuma preocupação em relação à proliferação nuclear por parte do Brasil, afirma Colin Powell, secretário de Estado. Não podemos comparar uma democracia como o Brasil com um regime totalitário como a Coréia do Norte ou o Irã (Veja, São Paulo, n. 1875, 13.out.2004, p. 11).
P.S.:
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) ganhou em 2005 o Prêmio Nobel da Paz. Nascida em 1957, com a missão de evitar o desvio de equipamentos para fins militares, a AIEA é responsável dentro das Nações Unidas pela fiscalização de equipamentos e pelo esforço ao uso pacífico da energia nuclear (Folha de S. Paulo, São Paulo, 08 out. 2005, p. A20).
A Coréia do Norte anunciou a realização de teste nuclear com a explosão subterrânea de bomba atômica. O suposto local da explosão subterrânea teria sido em túnel escavado de 700 metros de profundidade, localizado no monte Mantap. Ainda não se sabe se o teste foi bem-sucedido. As principais potências mundiais sinalizaram com a imposição de sanções ainda mais duras ao País. A Coréia do Norte se retirou do Tratado de Não-Proliferação Nuclear em 2003 e expulsou os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica, ligada às Nações Unidas (Valor, São Paulo, 10 out. 2006, p. A8).
'Não vejo o futuro sem energia nuclear', diz pesquisador
Palestrante desta próxima edição do SWU, David Cahen é chefe do departamento de Energia Alternativa do Instituto Weizmann de Israel
09 de novembro de 2011 | 3h 02
Afra Balazina, O Estado de S.Paulo
David Cahen defende as usinas nucleares e a taxação de carros poluentes para reduzir as emissões de gases-estufa no mundo. Ele é um dos palestrantes do Fórum Global de Sustentabilidade do festival de música SWU, em Paulínia (SP). A seguir, trechos da entrevista.
Cahen: 'Prevejo que o preço da energia eólica continuará a baixar, assim como o da energia solar'
O que pode ser feito para reduzir o uso de energia?
Hoje, o melhor é cortar o consumo de energia nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Não há dúvidas de que muitas pessoas de classe média e média alta na China, no Brasil e na Índia podem contribuir para os esforços de conservação, que devem começar primeiro em países como Islândia, Noruega, Finlândia, EUA e Canadá. O consumo de energia em países como a Islândia chega a ser quase dez vezes maior que o do Brasil.
Por causa do frio?
Claramente em parte é por causa do clima. Mas também porque a energia usada no país é muito barata, a geotérmica (obtida a partir do calor proveniente da Terra). A segunda coisa que podemos fazer é tirar das ruas carros a gasolina, promover insolação térmica apropriada nas casas e garantir que elas usem ao máximo a luz natural.
O carro elétrico é a solução?
Pode ser parte da solução. Queremos carros elétricos que possam responder à necessidade de quem precisa dirigir muitos quilômetros sem estação de recarregamento. Podemos também tentar taxar aqueles que consomem muita gasolina e que possuem motores pouco eficientes. E para isso não precisamos de novas tecnologias.
Qual é a dificuldade de aplicar novas tecnologias?
Se eu descobrir algo fantástico hoje, é muito improvável que isso esteja no mercado em menos de 15 ou 20 anos.
O que acha de alguns países, como a Alemanha, abandonarem a energia nuclear depois do acidente de Fukushima?
Eu não vejo como o mundo pode se virar no futuro próximo sem a energia nuclear. Não sou fã de nuclear, e fico feliz que Israel não tenha uma usina nuclear. Mas não vejo como os países em desenvolvimento serão capazes de viver sem ela. Mas o Brasil tem sorte, pode não precisar. Já a China e o Japão não têm escolha.
E a segurança?
Acredito que teremos de desligar os reatores antigos, isso custa, mas deve ser feito. Os reatores modernos são muito mais seguros. Mas existe um elemento-chave para a energia nuclear no futuro que se chama thorium e fica próximo do urânio na tabela periódica. A Índia tem perseguido esse elemento, mas ainda estamos longe disso.
As energias eólica e solar ainda são mais caras que a energia fóssil.
A comparação é injusta, pois não estamos taxando o carvão, o gás e o petróleo de acordo com o peso que eles trazem para a humanidade. Prevejo que o preço da energia eólica continuará a baixar, assim como o da energia solar. Porém, nunca serão tão baixos quanto a energia fóssil porque nós não pagamos o preço real pela energia de uma usina a carvão
Europa dividida sobre o futuro da energia nuclear na região
Europeus não conseguem chegar a um acordo sobre a utilização da energia nuclear no continente.
Reuters
Lúcia Müzell
Depois de a Comissão Europeia qualificar a situação japonesa como "apocalipse", cada país se manifesta sobre a continuação de seus projetos no setor nuclear. O assunto divide os membros do bloco e os vizinhos do velho continente. Os opositores à energia atômica, como os austríacos, aproveitam o episódio para relançar o debate, enquanto outros, como a Rússia, demonstram estar determinados a não alterar seus projetos nucleares.
Um dia depois de a União Europeia determinar que seus países deverão testar a segurança de suas centrais nucleares, a Áustria, uma antiga defensora do fim desse tipo de energia, está aproveitando o desastre no Japão para tentar convencer os outros europeus a refletir sobre a questão. "Esta catástrofe deve despertar uma ampla discussão sobre a utilização da energia nuclear, não somente na Europa como no mundo inteiro", afirmou o chanceler austríaco, Werner Faymann.
O primeiro passo seria o avanço da Euratom, órgão responsável pelas pesquisas nucleares na União Europeia. Nesta semana, Viena pressionou os europeus a realizar testes de resistência nos cerca de 150 reatores nucleares da UE. A decisão foi tomada na terça-feira em Bruxelas.
No final dos anos 70, os austríacos se opuseram, por referendo, à abertura de uma central nuclear em Zwentendorf, no leste do país. Em 1999, uma lei proibindo a utilização de energia nuclear na Áustria foi adicionada à Constituição.
De lá para cá, o país jamais parou de pressionar os demais europeus a garantirem, no mínimo, a segurança de suas instalações, em especial a Alemanha e o antigo bloco soviético do leste. Novos projetos, como a expansão da central eslovena de Mochovce, a 160 quilômetros de Viena, também são alvo de duras críticas por parte dos austríacos, que abrigam a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Nesta quarta-feira, a França declarou que a amplitude da tragédia no Japão poderá ser "maior que a de Chernobyl", ocorrida em 1986. Apesar de ser direta nas afirmações quanto aos japoneses, os franceses não parecem dispostos a reabrir o debate sobre as suas políticas energéticas no plano nacional. O primeiro-ministro, François Fillon, fez questão de dissociar a tragédia no Japão das instalações nucleares europeias. Atrás dos Estados Unidos, a França é o país que mais possui sítios nucleares no mundo, com 19 centrais e 58 reatores.
O presidente Nicolas Sarkozy disse hoje que o país vai organizar, nas próximas semanas, uma reunião especial do G20 para tratar sobre as opções energéticas. Ele afirmou que o primeiro dever da França, no momento, é ajudar o Japão.
Já a Espanha anunciou hoje que vai revisar a segurança de suas seis centrais nucleares e promover um estudo sobre os riscos sísmicos e de inundações no país, de acordo com o ministro da Indústria, Miguel Sebastian. "Queremos tirar todas as lições deste acontecimento”, afirmou Sebastian, referindo-se à catástrofe no Japão. Ele assegurou que as seis centrais nucleares e os oito reatores espanhóis são seguros. As organizações ecológicas programam manifestações nesta quinta-feira para pedir o fechamento das centrais, especialmente a de Garona, no norte, que foi construída sob os mesmos moldes de Fukushima, no Japão.
Em 2008, o chefe do Governo espanhol, o socialista José Luis Rodriguez Zapatero, havia prometido diminuir a dependência do país da energia nuclear e estimular as energias renováveis. Mas, em 2009, ele decidiu prolongar até 2013 a atividade de Garona, a central mais antiga da Espanha, aberta em 1971. Zapatero disse que encarregou o Conselho de Segurança Nuclear de coletar informações sobre os riscos sísmicos e de inundações nas centrais.
A Itália, por sua vez, indicou que, se a Europa optar por bloquear o desenvolvimento das energias nucleares em decorrência dos acidentes no Japão, Roma se adaptaria à decisão. O secretário italiano de Estado para a Energia, Stefano Saglia, afirmou que a evolução do programa nuclear italiano só acontecerá com o acordo da UE e das regiões afetadas pelos projetos. Ele estima, entretanto, que seria "um erro" se somente a Itália voltar atrás no seu programa. No próximo dia 23, o Conselho dos Ministros italianos vai determinar os critérios de localização das futuras centrais, que devem ser construídas até 2020.
Da mesma forma, a Finlândia anunciou hoje que é muito cedo para pensar nas consequências do acidente nuclear de Fukushima sobre a construção de um reator de terceira geração, chamado EPR, no país. "Não há qualquer mudança imediata nos planos de construção, porque ainda não sabemos exatamente o que aconteceu na central de Fukushima", disse Jouni Silvennoinen, chefe do projeto de Olkiluoto 3, cuja construção está atrasada no sudoeste da Finlândia. O início do funcionamento da central é previsto para o segundo semestre de 2012.
Com ainda mais firmeza, o governo russo demonstra estar determinado a não alterar seus projetos nucleares, 25 anos após ter enfrentado a maior catástrofe do gênero do mundo, com a explosão de Chernobyl, na vizinha Ucrânia. De acordo com as agências de notícias, o acidente no Japão não provocou debates nacionais sobre os riscos da exploração nuclear e as associações ecologistas são fracas demais para conseguir fazer pressão no governo.
Ontem, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, pediu aos ministérios relacionados ao programa nuclear de verificarem as condições de segurança nas centrais, mas deixou claro que Moscou não modificará a sua política energética. Putin assegurou que o país não possui instalações nucleares em zonas sísmicas, nem a intenção de construí-las em locais de risco. Especialistas contestam, entretanto, a afirmação, e dizem que as centrais de Balakovo e Rostov encontram-se em locais "potencialmente perigosos".
Energia nuclear é alternativa para o futuro
Por Agência Estado
Sexta-feira, 29 de abril de 2011 - 14h34
SÃO PAULO - O futuro da geração de energia no Brasil pode ser a construção de usinas nucleares, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim.
Mas, como o País ainda possui abundância de matrizes energéticas, a prioridade é esgotar os demais recursos disponíveis, como hidrelétricas e parques eólicos. A geração nuclear não seria uma questão urgente.
"É provável que a energia nuclear seja a melhor opção no futuro porque o Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do mundo. Além disso, é um dos poucos países que detêm a tecnologia para o enriquecimento. Mas o País pode pensar no programa nuclear com tranquilidade, sem afobamento", disse Tolmasquim.
O presidente da EPE afirmou ainda que a discussão em torno do Plano de Emergência para a usina nuclear de Angra 3, que ganhou força depois da tragédia nuclear em Fukushima, no Japão, não deve atrapalhar o cronograma das obras. A mobilização internacional sobre o tema estaria sendo acompanhada de perto pelo governo, mas possíveis mudanças afetariam apenas as próximas usinas a serem construídas no País. "O projeto de Angra 3 já está fechado. Nada muda. A usina vai começar a operar na data prevista, se não me engano em 2016", disse.
O futuro da energia nuclear
Publicado em 29/06/2011 | Ricardo Rüther
O acidente em Fukushima intensificou um movimento novo e crescente na sociedade alemã, denominado Wutbürger (cidadão irado), que vem manifestando seu descontentamento e indignação
Após o desastre nuclear em Fukushima Daiichi, o diretor da Associação Mundial dos Operadores de Usinas Nucleares (WANO – World Association of Nuclear Operators), Laurent Stricker, admitiu em entrevista ao periódico Nature que o futuro dessa tecnologia de geração é incerto e que qualquer outro evento dessas proporções deverá significar o fim da utilização da energia nuclear em todo o mundo. Em editorial no mesmo periódico em 2007, marcando os 50 anos do início de operação da usina Calder Hall no Reino Unido, que naquela data estava sendo permanentemente desativada, observou-se que, além da questão intrínseca relacionada à segurança, o principal problema da geração nuclear está relacionado ao custo.
Existe muito pouca informação publicamente disponível sobre o custo da geração nuclear. Uma exceção é o trabalho da Comissão de Energia da Califórnia (CEC), que periodicamente examina e publica o custo das várias fontes de geração. Segundo o estudo de 186 páginas da CEC, em função das exigências crescentes quanto à segurança e descarte de rejeitos, o custo da geração nuclear pode chegar a até US$ 342/MWh em 2018 nos Estados Unidos, cerca de três vezes mais cara do que a tarifa média residencial naquele país. No Brasil, não existe informação sobre o custo da geração nuclear publicamente disponível.
A Alemanha, que já havia instaurado uma moratória nuclear há vários anos e que mais recentemente voltara atrás, adiando o descomissionamento das usinas mais antigas, desistiu de dar uma sobrevida a esses geradores após o evento no Japão. Como consequência imediata do acidente nuclear em Fukushima, a chanceler alemã, Angela Merkel, ordenou a desativação permanente de dois reatores nucleares naquele país e a parada temporária na operação de outros cinco. No final de maio, a Alemanha anunciou a decisão de abandonar permanentemente a energia nuclear até 2022. O acidente em Fukushima intensificou um movimento novo e crescente na sociedade alemã, denominado Wutbürger (cidadão irado), que vem manifestando seu descontentamento e indignação por não ser chamada a opinar sobre questões tão importantes como essa. O termo Wutbürger foi inclusive escolhido como a palavra do ano na Alemanha em 2010. Os Wutbürgers não são um grupo pautado por uma ideologia, mas sim um conjunto de cidadãos de elevado grau de instrução que representa uma resistência ao estilo político da tomada de decisão sem consulta à população. Por todos os lados na Alemanha se veem bandeiras nas sacadas de apartamentos declarando a oposição do público para com a energia nuclear. Enquanto isso, no Brasil continua faltando a participação da sociedade na questionável decisão do país em avançar na utilização da energia nuclear.
Ricardo Rüther, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, é diretor técnico do Instituto para o
Desenvolvimento das Energias Alternativas na América Latina (Ideal).
sexta-feira, 24 de julho de 2009 | 06:59
Energia nuclear, um salto para o futuro
Pedro do Coutto
Entrevistado pela Revista Energia, edição de julho, publicação especializada, o cientista Zieli Dutra, ex presidente da Eletronuclear, professor da UFRJ e membro da Agência Internacional de Energia Atômica, defendeu a construção de Angra 3 que, a seu ver, vai acelerar o processo de substituição no país de usinas térmicas que consome óleo combustível e óleo Diessel, altamente poluentes.
O Brasil não pode abrir mão de energia moderna, mesmo mais cara, pois dentro dessa lógica era para abandonarmos o pré-sal. Zieli quando presidiu a Eletronuclear lutou pela retomada da construção de Angra 3. O governo, no início do período Lula, não aprovou o empreendimento. Agora aprova, mudou de rumo. Política é assim – acentuou.
O desenvolvimento de energia elétrica no mundo atravessou várias fases e contestações não faltaram inclusive nos países mais adiantados. No ano de 1800, alvorada do século 19, Alessandro Volta produziu a primeira pilha elétrica da história. Só muitos anos depois foi levado a sério. Tampouco a sério foi levado Barlow que criou o primeiro motor elétrico em 1828. Mas foram eles que levaram Alexis Fontaine a produzir em 1873 o primeiro transporte de energia elétrica à distância. Uma autêntica linha de transmissão. A evolução energética então caminhou mais rapidamente. Thomas Edson inventou a lâmpada em 1978 e Graham Bell o telefone em 1875. Com base na eletricidade, Marconi inventou o rádio em 1895. A energia elétrica chegou ao Brasil em 1901. E as transmissões radiofônicas começaram aqui no ano de 1922. Em 1935, Guillelmo Marconi veio ao Rio inaugurar a Rádio Tupi. E o rádio, no Brasil, significou uma revolução fantástica. Incorporou milhões de brasileiros que não sabiam ler ao processo de comunicação passando informação e opinião, revelando um número muito grande de artistas que, não fosse eles não seriam conhecidos.
Zieli Dutra está certo: os caminhos do progresso são árduos e longos, projetam-se por etapas no espaço da razão coletiva. A energia hidrelétrica foi combatida no início de sua aventura luminosa. Muitos no final do século 19 ainda preferiam a vela, o óleo a madeira,o carvão, a lamparina. O petróleo descoberto pelo alemão Diessel iniciava seu ciclo. Ser contra a energia nuclear, hoje, é quase o mesmo comportamento daqueles que se voltaram contra a eletricidade há 140 ou 130 anos atrás. As progressões científicas, entretanto, dão saltos geométricos. A matriz energética brasileira, atualmente, está em quase 100 milhões de KW. A hidroeletricidade pesa em torno de 72 por cento, a termoeletricidade aproximadamente 19%, as usinas de Angra 1 e Angra 2 participam com 5%. Angra 3 virá acrescentar uma etapa importante e essencial. Representa o reinício de uma caminhada.
No momento, a energia nuclear é mais cara do que a hidrelétrica na fonte de produção: 130 reais o MWH contra mais ou menos 74 reais. Mas na distribuição essa diferença desaparece. Quem examinar sua conta de luz vai constatar que, no Rio, paga cerca de 500 reais por MWH, ou seja, 500 reais por mil KW traduzindo-se o valor. A tarifa nuclear hoje não é competitiva na origem. Mas passará a ser dentro de pouco tempo – acrescentou. Ela substitui a poluição que causa problemas indiretos enormes. Além disso, é um salto para o futuro. Pois assim caminha o progresso. Assim caminha a humanidade. Assim avança a ciência.
Interesse pela energia nuclear ressurge em todo o mundo
O interesse de muitos governos pela energia nuclear volta a ser um fato. Tal situação deve promover o interesse dos cidadãos em conhecer os prós e os contras de tal opção. O papel dos professores, nestes debates, é particularmente sensível.
O interesse pela energia nuclear, uma velha inimiga do movimento ambientalista, está de regresso em muitos países, onde questões de dependência energética e o aumento do custo dos combustíveis fósseis provocaram mudanças políticas.
No final de Janeiro, a Grã-Bretanha anunciou a intenção de fazer uma consulta pública sobre o futuro das suas fontes energéticas, ressuscitando o espectro de um regresso à energia nuclear, e a França defendeu o recurso ao nuclear como parte do futuro da política energética na União Europeia.
Estima-se que os combustíveis fósseis respondam por cerca de 80 por cento da energia mundial, mas a produção de gás e petróleo poderá atingir o seu limite nas próximas três décadas, afirmam alguns especialistas.
Jean-Marie Chevallier, director da Cambridge Energy Research Associates e professor da Universidade francesa de Paris-Dauphine, considera "lógica" a discussão sobre energia nuclear na actual conjuntura.
A dependência europeia do gás estrangeiro veio à superfície nas últimas semanas, depois de um impasse entre a Rússia e a Ucrânia no início do ano, que provocou a redução temporária do abastecimento a alguns países da União Europeia.
Além disso, preocupações ambientais e a ideia de que as energias renováveis não são capazes de substituir os combustíveis fósseis, trouxeram a energia nuclear de regresso à ordem do dia.
A energia nuclear parece ser "uma solução parcial", afirma Chevallier, que reforçou que apenas três países europeus decidiram recentemente construir novas centrais nucleares: França, Finlândia e Roménia.
"Entre os países que sentimos estarem a começar a pensar na energia nuclear na Europa estão a Grã-Bretanha, Espanha, Suíça e Holanda, que acabou de prolongar a vida útil de uma central por mais 20 anos", acrescenta.
O comissário europeu para os assuntos económicos Joaquin Almunia disse recentemente que seria "suicídio" os governos europeus absterem-se da energia nuclear.
Durante um encontro em Bruxelas, o ministro das Finanças francês, Thierry Breton, explicou a visão de Paris sobre o que deve ser o futuro da política energética na União Europeia. De acordo com ele, a política energética europeia deveria levar em consideração "o crescente aumento da tensão em todo o mundo na situação entre fontes e procura de petróleo e gás, e mudanças climáticas", afirmou. "Manter a contribuição da energia nuclear no menu energético europeu e preservar a posição tecnológica e industrial europeias neste campo, são questões de importância estratégica para a União Europeia", disse.
Na França, um líder exportador de electricidade na UE, quase toda a electricidade (80%) do país tem origem nuclear.
Mesmo na Alemanha, onde a oposição à energia nuclear é mais consolidada, o debate também está de regresso.
Chevallier destaca que os receios sobre as mudanças climáticas e o reconhecimento da necessidade da redução das emissões de gases causadores de efeito estufa, foram outros argumentos favoráveis à energia nuclear. "A Finlândia, um país democrático e muito preocupado com problemas ambientais, decidiu construir uma central nuclear em vez de usar gás vindo da Rússia", diz.
Nos Estados Unidos, onde a questão do nuclear não é um tema tão quente entre a opinião pública, as autoridades estão ansiosas em adquirir um Reactor Europeu a água Pressurizada (European Pressurized Reactor, EPR) de terceira geração, desenvolvido em conjunto pelo grupo nuclear francês Areva e pela alemã Siemens.
No Japão, o gigante energético Toshiba revelou ter dado preferência à construtora de centrais nucleares americana Westinghouse sobre a concorrente General Electric. A Westinghouse construiu 49 reactores nucleares em funcionamento nos Estados Unidos contra 35 produzidos pela General Electric. A concorrência aberta pela Toshiba ocorre num momento em que o Japão se mostra ansioso por relançar o seu programa nuclear civil.
Enquanto isso, o Governo Chinês lançou um projecto de 50 biliões de dólares com o objectivo de construir 40 reactores até 2020. E na França, Jacques Chirac anunciou recentemente planos para desenvolver o protótipo de um reactor de quarta geração que estaria a funcionar em 2020.
Publicado em 14/08/2008 17:04
Brasil vai precisar da energia nuclear no futuro
Especialista afirma que recursos hidrelétricos do país e petróleo podem acabar
Brasil , Rio de Janeiro - Agência Brasil
O Brasil não poderá prescindir da energia nuclear no futuro porque, da mesma forma que o petróleo é um bem finito, os recursos hidrelétricos do país podem acabar. A avaliação foi feita ontem (13) pelo coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde José de Castro.
"O potencial hidrelétrico vai ser ocupado. Vai acabar. E aí o Brasil já tem que hoje, olhando para o futuro, ir diversificando a sua matriz de energia elétrica. E a energia nuclear é necessária. Não há como você tirar a fonte nuclear de estudos de mudança da matriz energética".
O economista afirmou que países desenvolvidos como Estados Unidos e Inglaterra estão voltando a investir na área nuclear. "Também a Europa vai reinvestir em energia nuclear porque ela não gera efeito estufa", previu Castro.
Segundo ele, o problema ambiental gerado pelo armazenamento dos resíduos atômicos pode ser minimizado diante do benefício com o uso dessa fonte de energia. O economista acredita que, com o reinício das obras de Angra 3, a questão da destinação dos resíduos certamente será equacionada de forma satisfatória.
Já o economista do Gesel, Roberto Brandão, classificou o leilão de linhas de transmissão da Usina Hidrelétrica do Rio Madeira (RO), como um marco para o país, devido à extensão que será percorrida para levar energia de Rondônia até São Paulo.
O leilão deverá ser realizado em setembro deste ano. Serão ao todo 2 mil 400 quilômetros de linhas de transmissão de energia, leiloadas no modelo de linha em corrente contínua, pouco usado em nível mundial, segundo Brandão.
Ele classificou o leilão de uma iniciativa original. "É um leilão original porque os próprios agentes privados vão decidir se vão ser dois elos de corrente contínua ou um elo de contínua e outro de corrente alternada".
Fusão e Fissão Nuclear
Durante a segunda Guerra Mundial, a humanidade se deparou com uma arma que chocou o mundo. A destruição das cidades de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, mostrou ao mundo o grande poder de destruição da fissão nuclear.
Fissão nuclear é o processo em que se “bombardeia” o núcleo de um elemento radioativo, com um nêutron. Essa colisão resulta na criação de um isótopo do átomo, totalmente instável, que se quebra formando dois novos elementos e liberando grandes quantidades de energia.
A fusão nuclear ocorre quando dois ou mais núcleos de um mesmo elemento se fundem e formam outro elemento, liberando energia. Um exemplo de fusão nuclear é o que acontece o no interior das estrelas, quando quatro núcleos de hidrogênio se fundem para formar um átomo de hélio. Esse processo libera uma quantidade de energia muito maior do que a liberada no processo de fissão nuclear.
Em 1952, foi criada a bomba H (bomba de hidrogênio), que tinha como reator nuclear a fusão do hidrogênio. Essa incrível arma de destruição gerou, em seu primeiro experimento, uma energia cerca de mil vezes maior do que a bomba A (bomba atômica) de fissão nuclear.
A principal diferença entre o reator de uma bomba atômica e o reator de uma usina nuclear, é que nessa a reação de fissão é controlada, e acontece sempre em quantidades suficientes para aquecer a água, que irá evaporar e girar as turbinas da usina. Na bomba atômica essa reação não é controlada.
Atualmente, a produção de energia nuclear tem se destinado à obtenção de energia elétrica, chamadas de usinas termonucleares. Esse nome se dá em razão do aquecimento dos nêutrons, usados para a fissão do núcleo de átomos como o urânio (235U), que gera um alto grau de agitação, fazendo do nêutron um excelente projétil para quebra do núcleo.
Por Kleber Cavalcante
Graduado em Física
Equipe Brasil Escola
Como funcionam os reatores de fusão nuclear
por Craig Freudenrich, Ph.D. - traduzido por HowStuffWorks Brasil
Introdução
Os reatores de fusão ganharam grande destaque na imprensa porque oferecem importantes vantagens em relação a outras fontes de energia. Eles utilizarão fontes de combustível abundantes, não apresentarão fuga de radiação acima dos níveis normais de radiação de fundo e produzirão menos lixo radioativo que os atuais reatores de fissão.
A tecnologia para a execução desse equipamento ainda não está disponível, mas o funcionamento dos reatores não está tão longe da realidade. No momento, os reatores de fusão estão em estágio experimental em vários laboratórios pelo mundo.
Local de construção proposto para a usina do reator de fusão ITER em Cadarache, França.
Foi proposto um consórcio entre Estados Unidos, Rússia, Europa e Japão para o desenvolvimento de um reator de fusão denominado ITER (Reator Experimental Termonuclear Internacional) em Cadarache, França, para demonstrar a viabilidade do uso sustentável de reações de fusão para geração de eletricidade. Neste artigo, saberemos mais sobre a fusão nuclear e sobre como o reator ITER funcionará.
A física da fusão nuclear: reaçõesIsótopos
Os isótopos são átomos do mesmo elemento com o mesmo número de prótons e elétrons, mas um número diferente de nêutrons. Eis alguns isótopos comuns para fusão:
prótio ou hidrogênio - isótopo de hidrogênio com um próton e nenhum nêutron. É a forma mais comum de hidrogênio e o elemento mais comum no universo;
deutério - isótopo de hidrogênio com um próton e um nêutron. Não é radioativo e pode ser extraído da água do mar;
trítio - isótopo de hidrogênio com um próton e dois nêutrons. É radioativo, com meia-vida de aproximadamente 10 anos; não ocorre naturalmente, mas pode ser produzido por meio do bombardeio de lítio por nêutrons;
hélio 3 é um isótopo de hélio com dois prótons e um nêutron;
hélio 4 é a forma mais comum de ocorrência natural do hélio, com dois prótons e dois nêutrons.
Os atuais reatores nucleares usam a fissão nuclear para gerar energia. Na fissão nuclear, a energia é obtida a partir da divisão de um átomo em dois átomos. Em um reator nuclear convencional, os nêutrons de alta energia dividem átomos pesados de urânio, proporcionando grandes quantidades de energia, radiação e lixo radioativo por longos períodos de tempo (veja Como funciona a energia nuclear).
Na fusão nuclear, a energia é obtida quando dois átomos são agrupados para formar um. Em um reator de fusão, os átomos de hidrogênio se agrupam para formar átomos de hélio, nêutrons e grandes quantidades de energia. Esse é o mesmo tipo de reação utilizado pelas bombas de hidrogênio e pelo Sol. Essa seria uma fonte de energia mais limpa, segura, eficiente e abundante do que a fissão nuclear.
Há vários tipos de reações de fusão. A maioria envolve os isótopos de hidrogênio denominados deutério e trítio:
Cadeia próton-próton: esta seqüência é o esquema de reação de fusão predominante utilizado pelas estrelas como o sol.
dois pares de prótons transformam-se em dois átomos de deutério;
cada átomo de deutério é combinado com um próton para formar um átomo de hélio 3;
dois átomos de hélio 3 são combinados para formar o berílio 6, que é instável;
o berílio 6 decai em dois átomos de hélio 4.
Essas reações produzem partículas de alta energia (prótons, elétrons, neutrinos, pósitrons) e radiação (luz, raios gama).
Reações deutério-deutério: dois átomos de deutério são combinados para formar um átomo de hélio 3 e um nêutron.
Reações deutério-trítio: um átomo de deutério e um átomo de trício são combinados para formar um átomo de hélio 4 e um nêutron. A maior parte da energia liberada está na forma de nêutron de alta energia.
De forma conceitual, a utilização de fusão nuclear em um reator não é complexa. No entanto, tem sido extremamente difícil para os cientistas chegar a uma forma controlável e não destrutiva de fazê-lo. Para entender o motivo, precisamos analisar as condições necessárias para a fusão nuclear.
Condições para a fusão nuclear
Quando os átomos de hidrogênio se fundem, os núcleos são reunidos. No entanto, os prótons em cada núcleo tenderão a se repelir por terem a mesma carga (positiva). Se você já tentou posicionar dois ímãs juntos e percebeu que eles se afastam, sabe como funciona esse princípio.
Para obter a fusão, é necessário criar condições especiais para controlar essa tendência. A seguir, apresentaremos as condições para tornar possível a fusão.
Alta temperatura: a alta temperatura fornece energia aos átomos de hidrogênio para que eles superem a repulsão elétrica entre os prótons.
A fusão requer temperaturas em torno de 100 milhões de kelvin (aproximadamente seis vezes mais quente que o núcleo do sol).
Nessas temperaturas, o hidrogênio é um plasma, não um gás. O plasma é um estado de alta energia da matéria no qual todos os elétrons são arrancados dos átomos e se movem livremente.
O sol atinge essas temperaturas devido à sua grande massa e à força da gravidade que a compacta no seu núcleo. É necessário usar energia de microondas, lasers e partículas de íons para atingir essas temperaturas.
Alta pressão: a pressão faz com que os átomos de hidrogênio sejam comprimidos. Eles devem estar a 1x10-15 metros um do outro para que ocorra a fusão.
O sol utiliza sua massa e a força da gravidade para comprimir os átomos de hidrogênio em seu núcleo.
É necessário agrupar átomos de hidrogênio usando intensos campos magnéticos, potentes lasers ou feixes de íons.
Com a atual tecnologia, podemos usar somente as temperaturas e pressões necessárias para tornar possível a fusão deutério-trítio. A fusão deutério-deutério requer altas temperaturas, que talvez sejam possíveis no futuro. Em suma, a fusão deutério-deutério será melhor, já que será mais fácil extrair deutério da água do mar do que obter trítio a partir do lítio. Além disso, o deutério não é radioativo e as reações deutério-deutério produzirão mais energia.
Reatores de fusão: confinamento magnéticoTokamak
"Tokamak" é um acrônimo russo para "câmara toroidal com campo magnético axial".
Há duas formas de atingir as temperaturas e pressões necessárias para que a fusão de hidrogênio ocorra:
O confinamento magnético usa campos magnéticos e elétricos para aquecer e comprimir o plasma de hidrogênio. O projeto ITER, na França, está usando este método;
O confinamento inercial usa feixes de laser ou de íons para comprimir e aquecer o plasma de hidrogênio. Os cientistas estão estudando esta abordagem experimental na National Ignition Facility (em inglês) do Laboratório Lawrence Livermore nos Estados Unidos.
Vejamos primeiro o confinamento magnético. Microondas, eletricidade e feixes de partículas neutras de aceleradores aquecem um fluxo de gás hidrogênio, transformando-o em plasma. Esse plasma é comprimido por ímãs supercondutores, permitindo que a fusão ocorra. O formato mais eficiente de plasma confinado magneticamente é o de uma rosquinha (toróide).
Toróide de plasma
Um reator desse formato é denominado tokamak. O tokamak ITER será um reator independente cujas partes estão em vários compartimentos. Esses compartimentos podem ser facilmente inseridos e removidos sem precisar destruir todo o reator para manutenção. O tokamak terá um plasma toróide com raio interno de 2 metros e um raio externo de 6,2 metros.
Vejamos mais detalhadamente o reator de fusão ITER para analisar como funciona o confinamento magnético.
Confinamento magnético: o exemplo do ITER
As principais peças do reator tokamak ITER são:
Compartimento de vácuo - retém o plasma e mantém a câmara de reação em um vácuo;
Injetor de feixe neutro (sistema cíclotron de íons) - a fim de ajudar a aquecer o plasma a temperaturas críticas, o injetor injeta no plasma feixes de partículas a partir do acelerador;
Bobinas de campo magnético (poloidal, toroidal) - ímãs supercondutores que confinam, dão a forma e preservam o plasma usando campos magnéticos;
Transformadores/solenóide central - fornecem eletricidade às bobinas de campo magnético;
Equipamento de resfriamento (criostato, bomba criogênica) - refrigera os ímãs;
Módulos de camada - feitos de lítio; absorvem o calor e os nêutrons de alta energia a partir da reação de fusão;
Defletores - descarregam os produtos do hélio da reação de fusão.
Vejamos como o processo funcionará:
Processo de fusão de confinamento magnético
O reator de fusão aquecerá um fluxo de combustível de deutério e de trítio para formar o plasma de alta temperatura. Ocorrerá uma compressão do plasma para que a fusão possa ocorrer:
A potência necessária para iniciar a reação de fusão será em torno de 70 megawatts, mas o rendimento de potência da reação será de aproximadamente 500 megawatts;
A reação de fusão irá durar de 300 a 500 segundos. Com o tempo, haverá uma reação de fusão sustentável;
As camadas de lítio fora da câmara de reação plasmática vão absorver nêutrons de alta energia a partir da reação de fusão para produzir mais combustível de trítio. As camadas também serão aquecidas pelos nêutrons;
O calor será transferido por uma corrente de água para resfriamento até um trocador de calor, a fim de formar o vapor;
O vapor irá estimular as turbinas elétricas a produzirem eletricidade;
O vapor será condensado novamente em água, a fim de absorver mais calor do reator no trocador de calor.
Inicialmente, o tokamak ITER irá testar a viabilidade de um reator de fusão sustentável. Mais tarde será testada uma usina de energia de fusão.
Reatores de fusão: confinamento inercial - As fotos dos processos descritos foram colocadas antes, neste texto.
A NIF (National Ignition Facility) do Laboratório Lawrence Livermore está realizando experimentos usando feixes de laser para induzir a fusão. No dispositivo da NIF, 192 feixes de laser serão focalizados em um único ponto em uma câmara de alvos com 10 metros de diâmetro, denominada hohlraum (cavidade, em alemão). Uma hohlraum é uma "cavidade cujas paredes estão em equilíbrio radioativo com a energia radiante na cavidade", de acordo com a Science and Engineering Encyclopaedia (em inglês).
Cortesia do National Ignition Facility
Processo de fusão de confinamento inercial
No ponto focal dentro da câmara de alvos haverá uma esfera (do tamanho de uma ervilha) de deutério-trítio inserida em um pequeno cilindro de plástico. A energia dos lasers (1,8 milhão de joules) irá aquecer o cilindro e gerar raios X. O aquecimento e a radiação converterão a esfera em plasma e irão comprimi-la até que a fusão ocorra. A reação de fusão terá uma breve vida útil, em torno de um milionésimo de segundo, mas irá render de 50 a 100 vezes mais energia do que a necessária para iniciar a reação de fusão. Um reator desse tipo teria vários alvos, que poderiam ser ativados em seqüência para gerar produção de calor sustentável. Os cientistas estimam que cada alvo pode ser produzido por apenas 25 centavos de dólar, tornando econômica a usina de energia de fusão.
Cortesia do laboratório Lawrence Livermore
Processo de ignição da fusão
Como o reator de fusão de confinamento magnético, o aquecimento a partir da fusão de confinamento inercial passará por um conversor de calor, a fim de criar vapor para produzir a eletricidade.
Aplicações da fusão
A principal aplicação da fusão é a criação de eletricidade. A fusão nuclear poderá fornecer uma fonte limpa e segura de energia para as gerações futuras, com muitas vantagens em relação aos atuais reatores de fissão:
fornecimento abundante de combustível: o deutério pode ser imediatamente extraído da água do mar e o trítio em excesso pode ser obtido no próprio reator de fusão a partir do lítio, que está prontamente disponível na crosta terrestre. O urânio para fissão é raro; além disso, a exploração é difícil e é necessário enriquecê-lo para uso nos reatores;
Segurança: as quantidades de combustível usadas para fusão são pequenas se comparadas aos reatores de fissão. Portanto, não ocorrem liberações não controladas de energia. A maioria dos reatores de fusão produz menos radiação do que a radiação de fundo natural com a qual convivemos diariamente;
Pureza: não ocorre combustão na energia nuclear (fissão ou fusão), e portanto não há poluição do ar;
Menos lixo nuclear: os reatores de fusão não produzirão lixo nuclear de alto nível como os de fissão; portanto, o descarte não será um problema. Além disso, o lixo não será material nuclear da categoria de armas nucleares, como é o caso dos reatores de fissão.
A NASA está atualmente desenvolvendo reatores de fusão de pequena escala para o fornecimento de energia a foguetes no espaço sideral. A propulsão a fusão proporcionaria um fornecimento ilimitado de combustível (hidrogênio), seria mais eficiente e poderia levar a foguetes mais velozes.
Fusão a frio
Em 1989, pesquisadores nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha afirmaram ter produzido um reator de fusão em temperatura ambiente sem confinamento de plasma em temperatura elevada. Eles produziram um eletrodo de paládio, o posicionaram em um recipiente de água pesada (óxido de deutério) e passaram uma corrente elétrica através da água. Eles afirmaram que o paládio catalisou a fusão, permitindo que os átomos de deutério ficassem próximos o suficiente para que a fusão ocorresse. No entanto, vários cientistas em diversos países não obtiveram o mesmo resultado.
Mas, em abril de 2005, a fusão a frio obteve grande popularidade. Os cientistas na UCLA (University Califórnia at, Los Angeles, nos EUA) iniciaram a fusão usando um cristal piroelétrico. Eles inseriram o cristal em um pequeno recipiente com hidrogênio, aqueceram o cristal para que produzisse um campo elétrico e inseriram um fio metálico no recipiente para focalizar a carga. O campo elétrico focalizado repeliu intensamente os núcleos de hidrogênio carregados positivamente e, no afastamento do fio, os núcleos se chocaram uns com os outros com força suficiente para que ocorresse a fusão. A reação ocorreu em temperatura ambiente. Clique aqui (em inglês) para saber mais.
Para outras informações sobre reatores de fusão nuclear e tópicos relacionados, consulte os links relacionados na próxima página.
A fusão nuclear e o Brasil
Brasil participa de esforço internacional para desenvolvimento da fusão nuclear
(22/11/2011)
Comunicação CNEN
Um convênio entre o Brasil e a Comunidade Européia de Energia Atômica (Euratom), vai permitir que pesquisadores brasileiros participem do International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER), esforço conjunto de diversos países para construção de um reator de fusão nuclear de grande porte. Através da Rede Nacional de Fusão (RNF), presidida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), o Brasil vem articulando os investimentos nacionais para o desenvolvimento desta tecnologia. Um laboratório destinado a pesquisas na área da fusão nuclear deverá ser construído na cidade de Cachoeira Paulista (SP) e fará parte da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN.
As usinas nucleares atualmente em funcionamento geram calor através da fissão nuclear: divisão dos núcleos dos átomos em uma reação em cadeia. O calor aquece um sistema hidráulico, produzindo vapor que movimenta turbinas geradoras de eletricidade. É o caso das usinas Angra 1 e Angra 2, no Rio de Janeiro.
A fusão nuclear funciona de uma forma diferente. A geração de calor não se dá pela divisão, mas pela fusão de núcleos atômicos, principalmente dos elementos deutério e trítio. A intensidade de calor gerada é tão intensa quanto na fissão, com a vantagem de não produzir rejeitos radioativos de longa vida. Centrais nucleares de fusão poderão tornar-se elementos importantes no futuro panorama energético internacional, produzindo eletricidade diretamente ou através de uma cadeia baseada na utilização de hidrogênio e células de combustível.
Apontada como uma alternativa energética limpa e com capacidade de suprir grandes demandas de energia, a fusão nuclear controlada teve sua viabilidade demonstrada pela comunidade científica internacional na década de 90 com equipamentos denominados tokamaks. Os primeiros experimentos bem-sucedidos foram realizados na Europa, com o tokomak JET (Joint European Torus); e nos Estados Unidos, com o tokamak TFTR (Tokamak Fusion Test Reactor). Ambos baseiam-se em um dispositivo de confinamento magnético de plasmas termonucleares, originalmente concebido por cientistas russos.
No entanto, ainda são necessários vários aperfeiçoamentos técnicos que possibilitem seu uso como fonte energética. Os maiores avanços concentram-se no Projeto ITER, protótipo de reator de fusão nuclear que será construído na cidade de Cadarache, na França. O projeto é resultado de um programa de colaboração internacional que reúne Comunidade Européia, Suíça, Rússia, Japão, Estados Unidos, China, Coréia do Sul e Índia. A participação do Brasil vinha sendo analisada há algum tempo e esta foi uma das razões para a criação da RNF, em 2006.
Com a Rede a comunidade científica brasileira busca coordenar e ampliar atividades de pesquisa em fusão nuclear que há cerca de 30 anos são desenvolvidas por diferentes grupos no País. Está sendo possível também estabelecer prioridades e gerenciar as cooperações internacionais nesta área. Com isso, espera-se colaborar no Projeto ITER e desenvolver a capacitação científica e técnica necessárias para adotar a fusão nuclear no Brasil, caso venha a se tornar economicamente viável.
O convênio que o Brasil está elaborando com a Euratom prevê que o País concentre esforços na pesquisa de alguns pontos do projeto ITER. O secretário executivo da RNF e diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Ricardo Galvão, acredita que os pesquisadores brasileiros poderão colaborar principalmente com pesquisas referentes a sistemas de diagnóstico de plasma, desenvolvimento de materiais da primeira parede do reator e sistemas remotos de controle e aquisição de dados. Em contrapartida, o Brasil terá acesso a experimentos que reúnem o que há de mais avançado na área da fusão nuclear.
O Laboratório Nacional de Fusão Nuclear será fundamental para o desenvolvimento de pesquisas nacionais nesta área. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) já cedeu parte de sua área em Cachoeira Paulista a CNEN. A construção da nova unidade poderá começar já no próximo ano.
BRASIL CRIA REDE PARA DESENVOLVER FUSÃO NUCLEAR CONTROLADA
O objetivo é encorajar pesquisas e parcerias ligadas à tecnologia, que poderá fornecer energia limpa e abundante no futuro
Ninguém sabe ainda se a fusão nuclear será a saída para os problemas de fornecimento de energia limpa para o futuro da humanidade. Mas muita gente anda disposta a apostar nisso, e o Brasil está para reforçar seus esforços nessa direção. Nesta terça-feira (7), o governo federal anunciará a criação da Rede Nacional de Fusão (RNF).
Composta por 80 pesquisadores de 16 instituições, a rede será coordenada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). A cerimônia ocorrerá no Instituto de Física da Universidade de São Paulo, com a participação do ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende. O principal objetivo da rede será fomentar o avanço das pesquisas nacionais em fusão nuclear controlada.
O processo de fusão -- que implica grudar átomos leves uns nos outros, produzindo com isso grandes quantidades de energia -- é exatamente o que alimenta as estrelas, como o Sol. Embora seja a forma mais eficiente de produção de energia, ela nunca conseguiu ser empregada de forma eficaz em laboratório. O único domínio dessa forma de energia para uso tecnológico foi com a fusão descontrolada, usada em bombas de hidrogênio (artefatos nucleares mais poderosos que as tradicionais bombas atômicas).
Grandes esforços ao redor do mundo estão em andamento para que se atinja a capacitação tecnológica para a fusão controlada -- coisa que pode ou não ser possível, ninguém sabe ao certo. Na França, um grande projeto de cooperação internacional (envolvendo a União Européia, os EUA, o Japão, a Rússia, a China, a Índia e a Coréia do Sul) está construindo um imenso reator experimental, chamado Iter.
O Brasil também tem seus próprios experimentos, embora sejam evidentemente de menor porte. A idéia, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia, é encorajá-los, além de propiciar participações em projetos mais ambiciosos desenvolvidos em cooperação internacional, como o Iter.
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