Temos o costume de considerar alguns povos, como detentores de um tipo de civilização de segunda categoria, atrasados e obscuros, com crenças e valores que nos surpreendem, com sistemas e leis que consideramos coisas de bárbaros de séculos passados, etc....
Entre outros, especialmente os povos islâmicos, seguidores dos rígidos códigos do Al Corão, nos causam espanto e, muitas vezes, não entendemos como em pleno século XXI, ainda existem civilizações tão "bizarras" e distantes de tudo o que nós acreditamos e julgamos como adequado!
Nesse cenário de sumária rejeição a essas "civilizações secundárias", aqui e ali, às vezes aparecem alguns sinais e indicadores, que colocam uma dúvida ou uma interrogação, em relação a esse nosso olhar e a esse nosso tipo de julgamento!
Sem absolutamente ter qualquer dúvida quanto ao absurdo das manifestações patológicas, criminosas e sanguinárias de alguns dos dirigentes desses povos e de alguns de seus líderes religiosos, tenho, contudo, me perguntado, às vêzes, qual seria realmente o padrão civilizatório mais adequado à humanidade:
- o padrão tecnológico, consumista, edonista, cumulativo, hipócrita, sem limites e valores, da civilização ocidental, ou :
- o padrão artesanal, contido, referenciado, balisado, direto e orientado por valores e crenças, desse tipo de civilização ?
Essa dúvida, deu ontem um "salto qualitativo" em minha cabeça e em meu coração, quando acabei de ver o excepcional Filme "A Separação", do Diretor iraniano Asghar Farhadi.
Sim! É isso mesmo! Um filme iraniano, da mesma "civilização" do Mahmoud Ahmadinejad, aquele que consideramos como um Dirigente "fora da curva", por suas idéias absurdas e por seu radicalismo!
Não é por acaso que esse filme já arrebatou o "Globo de Ouro" de melhor filme estrangeiro de 2011 e é sério candidato a levar também o Oscar / 2012, na mesma categoria.
Não sei até que ponto o Filme reproduz fielmente a "civilização iraniana do século XXI", com seus costumes, seu sistema juridico, seus valores e sua ética de não deturpar os fatos, não se aproveitar do outro, não se afastar do caminho correto e indicado pelo Livro Sagrado - o Al Corão!...
O Diretor Asghar Farhadi, quando recebeu o Globo de Ouro pelo prêmio consquistado por seu filme, fez um "discurso", composto de uma única frase :
"O povo iraniano é um povo de paz".
Nessas questões, não são adequadas as generalizações! Há que se distinguir, sempre, entre a "civilização" dos Dirigentes ou Líderes Religiosos e a "civilização" do povo das ruas! Entre as loucuras dos Dirigentes e Líderes Religiosos e a vida normal dos cidadãos comuns, vai um abismo sem dimensão!
Os Dirigentes e Líderes Religiosos, em qualquer parte do mundo, paradoxalmente, não possuem valores nem crenças! Aliás, possuem, sim: o valor e a crença da conquista e manutenção do PODER, acima de tudo e de todos, inclusive de seu Deus!
O povo das ruas, é forjado em cima de valores e crenças ancestrais e naturais, que brilham como norte de suas ações e de seu modus-vivendi!
Geralmente, vemos isso claramente presente nessas "civilizações de segunda categoria" , onde os indivíduos, até colocam em risco suas vidas e seu bem estar, para lutar por seus valores e suas crenças. Vejam quantos já perderam suas vidas, nesses movimentos populares da chamada "primavera árabe"! Mesmo nessas "civilizações de segunda categoria", essas questões dizem respeito ao cidadão comum que está nas ruas e são por eles assumidas!
Que diferença, p. ex., em relação à nossa "adiantada civilização brasileira", onde não se consegue mobilizar sequer um único indivíduo contra a corrupção devastadora de nossos "três poderes democráticos" e onde os valores e crenças do povo da rua, se fortalecem e se alimentam de excrescências anestésicas e depravadas, tipo novelas e BBB, promovidos e patrocinados por "grandes e sérias Corporações", como Canais de TV, Fiat, Nestlé, Omo, Guaraná Antarctica e outros....
Segundo consta, nossa "civilização brasileira do sec. XXI" e da era "tucano-lullo-PTista, é a única, em todo o mundo, onde essa "pérola" chamada BBB, ainda permanece na grade de produção de TV, ! Na própria Holanda, berço desse câncer, o Programa não existe mais!...
O filme da "atrasada civilização iraniana", "A Separação", nos trás algumas lições: conflitos de todo o tamanho, que são resolvidos quase diretamente entre os envolvidos ou, quando muito, perante um "juiz", uma pessoa comum, com roupas comuns, em uma sala de 2m por 3m, onde cada um fala o que quer, se manifesta como quer em sua defesa, briga, grita, ameaça, ouve, se cala, interfere contra o outro ou, até, a favor do outro, sem jogadas arquitetadas, sem interferência de intermediários ( no Irã existem advogados ? ? ? ), enfim, algo que parte diretamente do coração, dos valores e das crenças de cada um! O "sistema atrasado", parece que convive bem com esse tipo de modelo!
Compare com nosso "Sistema Judiciário" , com as artimanhas de nossos "patronos" e "defensores", com os jogos políticos de nosso Sistema de Poder !
Ah! Que inveja do Irã ! Desse Irã, onde as partes, para resolver seus conflitos e suas prementes necessidades de subsistência, colocam, acima de tudo, a "verdade" e os "valores" que se alicerçam em algo bem mais sólido e consistente e, até, no juramento feito com a mão em cima do Al Corão!....
Essa é a "civilização" do povo das ruas, desse povo que ainda não foi contaminado pelos Jogos de Poder de seus Dirigentes Civis ou Religiosos...
Ah! Que inveja dos valores desse povo que vive nessas "civilizações atrasadas" e que, diferentemente do povo de nossa "adiantada civilização brasileira", jamais ouviu falar em "Ética Relativa", nem em "levar vantagem em cima do outro" !.......
Sei não! Dizem que em 2020 ou 2030, a Europa já estará totalmente "engolida" pela "Civilização Islâmica" !
Isso tem a ver com a "explosão demográfica" dos seguidores do Islã, ou com a consolidação de um núcleo de valores e de crenças definidos, que está se esvaindo a cada dia, em nossas Civilizações Ocidentais ?
Lembram-se porque o poderoso Império Romano simplesmente se desintegrou ?
Sinceramente ! Têm aumentado minhas dúvidas em relação à "Civilização" onde vivo! . . . .
Márcio Dayrell Batitucci